Jornalista com acondroplasia lança livro sobre nanismo e fala sobre acessibilidade, preconceito e inclusão

“O caminho é longo ainda”. Esta é a resposta de Lelei Teixeira quando questionada sobre os desafios e preconceitos enfrentados por quem tem nanismo no Brasil. A jornalista gaúcha lançou em dezembro passado o livro ‘E fomos ser gauche na vida’, que teve a primeira edição praticamente esgotada em menos de 30 dias. O livro chegou às livrarias pela Pubblicato Editora e conta a história da autora e da irmã Marlene Teixeira, que morreu em abril de 2015 por complicações de um câncer. Ambas com nanismo compartilharam não só uma amizade linda, mas também uma vida cheia de coragem!

A ideia do livro era ser escrito a quatro mãos. Durante anos elas planejaram compartilhar experiências pessoais e profissionais unindo estudos que a Marlene desenvolvia sobre linguagem, discurso, trabalho, psicanálise e literatura. Com a morte da irmã, Lelei conta que ficou um ano em luto, sem conseguir pensar sobre a possibilidade. Depois disso começou a escrever para o blog “Isso não é comum” do Sul21 e continuou até agosto de 2020. Foi nesses quase quatro anos que o livro começou a ganhar forma.

Jornalista reconhecida no sul do país, Lelei tem um texto leve, carismático e a leitura ainda que tratando de situações difíceis, é acessível. Em entrevista ao Blog do Somos Todos Gigantes, ela contou um pouco sobre as expectativas futuras e a pretensão de agora levar o livro para o resto do país. A segunda edição já está sendo preparada, inclusive.

Marlene era um ano mais velha que Lelei e ambas nasceram com acondroplasia. Inicialmente os pais não se deram conta do nanismo. Achavam apenas que a filha era pequena. “Quando eu nasci, viram que eu tinha as mesmas características e pensaram que teria algo diferente com nós duas. O médico se deu conta do nanismo, falou para os meus pais e completou: ‘elas têm desenvolvimento intelectual e emocional normal, podem colocá-las no mundo’. Eu digo que a sentença médica foi salvadora, em certo sentido, porque brincamos e fomos para a escola sem restrições. Fomos enfrentando o que vinha na vida”.

A jornalista explica que ir para “a cidade grande” estudar e trabalhar foi o começo de convívio com a estranheza. “É estranho pensar o quanto uma cidade pode ser difícil. O retorno que estou tendo dos leitores é incrível porque a maioria das pessoas nunca imaginou situações pelas quais passamos. Banheiros públicos, calçadas. Eu entro em um hotel e por mais chique que ele seja, falha na acessibilidade. Eu não consigo lavar minhas mãos em um hotel. Engenheiros e arquitetos, por exemplo, possuem uma enorme missão de trabalho que vai muito além do que as leis obrigam”, acrescenta.

Sobre o único caminho para a mudança, Lelei é enfática e não pensa antes de responder: a educação. “São as crianças que podem romper com isso. Nossas gerações foram criadas com preconceito que é estrutural. Temos que romper essa estrutura e isso só é possível com as crianças. É educar, conscientizar e não omitir. Eu aposto na educação. Só a educação vai nos tirar deste preconceito que está colado na nossa pele. Acredito muito, muito nisso”, finaliza.

Quem ainda não leu, coloca na lista de 2021, que é leitura obrigatória! 

Catherine Moraes

Jornalista por formação e apaixonada pelo poder da escrita. Do tipo que acredita que a informação pode mudar o mundo, pra melhor!
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