Saiba como identificar sinais de atraso de fala em crianças com nanismo e quando procurar ajuda

Foto: Michelly Matos

Infecções de ouvido por repetição estão entre os motivos para essa disfunção da linguagem 

Na infância, algumas complicações médicas podem dificultar o desenvolvimento da fala da pessoa com nanismo, por isso o acompanhamento multiprofissional deve ser constante. No total, 20% das crianças com acondroplasia – tipo mais comum da doença – são diagnosticadas com atraso da linguagem. A fonoaudióloga clínica e mestre em distúrbios da comunicação humana, Ana Lúcia Kozonara, falou com o INN sobre os motivos desse quadro, os sinais de alerta e quando procurar ajuda. 

Durante o crescimento, uma criança passa por diferentes etapas do desenvolvimento motor, cognitivo, comportamental e da linguagem. Segundo a médica, os pais e responsáveis precisam ter em vista os marcos de desenvolvimento como parâmetro. “Crianças começam a emitir as primeiras palavras por volta de um ano de idade. Claro que cada criança tem um ritmo, mas as variações são pequenas. Então, por volta de um ano, a criança já deve verbalizar as primeiras palavras. A partir de um ano e três meses, as famílias precisam buscar ajuda profissional. Não espere até os dois anos”, ressalta Ana. 

Outro sinal elencado pela fonoaudióloga diz respeito à capacidade de comunicação da criança. “Se ela é comunicativa, mas não fala, tem dificuldades específicas, se troca sons por muito tempo, se parece que não ouve bem, se pede pra repetir muitas vezes. Essas questões também precisam de uma atenção maior. Além de identificar se a criança está ouvindo bem, é importante identificar se ela está processando aquela informação, se ela entendeu o que você disse”, explica a profissional. 

Segundo a fonoaudióloga, crianças acondroplásicas e com outros diversos diagnósticos de nanismo tendem a desenvolver infecções do ouvido de repetição que são resistentes a tratamentos médicos, além de outros problemas respiratórios. Se não são tratadas de forma intensiva, estas infecções podem contribuir para o atraso da fala. “Essas inflamações podem culminar na perda na quantidade de sons que eles ouvem, como se escutassem menos, e também no processamento desse som em nível central. Isso pode ocasionar dificuldade de aprendizado e trocas na fala, além de menor atenção. Se já sabemos desses quadros, precisamos estar atentos desde o início para evitar o diagnóstico tardio”. 

No adulto

O adulto com nanismo tem uma série de alterações anatômicas e esqueléticas que favorecem as infecções de repetição quanto da ressonância, produção e projeção da voz. “Em algumas situações, a voz pode parecer muito anasalada ou muito aguda para a idade, principalmente nos homens, o que dá um caráter de uma voz infantilizada. Isso tem a ver com as diferenças anatômicas”, afirma Ana Lúcia. Em muitas situações, segundo a médica, o adulto deixa de ir ao médico por não acreditar em uma solução. “Mas é importantíssimo buscar ajuda profissional. Hoje, nós temos terapia para melhorar a qualidade da fala e a ressonância da voz. O fonoaudiólogo é um apoio para melhorar as características dessa voz”, complementa. 

Essa voz infantilizada que a profissional cita é, muitas vezes, motivo de piada e chacota. “Acham engraçado, mas não é nada engraçado. É uma variação anatômica, mas é possível melhorar fisicamente, o que impacta diretamente na qualidade de vida. A terapia na infância e na fase adulta ajuda na melhora da condição de comunicação”, enaltece Ana Lúcia, ao lembrar que o acompanhamento multiprofissional deve ocorrer durante toda a vida. 

Falta de conhecimento 

Além de muitas pessoas com nanismo acreditarem que não há uma solução para suas vozes na fase adulta, elas ainda enfrentam a falta de conhecimento e informação de vários profissionais da área da saúde. “De forma geral, muitos colegas não sabem lidar com essas diferenças e acabam tratando o caso de forma pejorativa. O impacto desse comportamento que resulta em um mau atendimento acaba levando o paciente a acreditar que o problema é imutável. É importante que todos saibam que é possível mudar e melhorar o grave e a precisão dessa voz. É possível ir em busca de uma qualidade de vida melhor. E eu espero, de verdade, que meus colegas de profissão que possam se informar mais para ter mais capacidade para lidar com portadores de nanismo”, finaliza a fonoaudióloga.

Kamylla Rodrigues

Kamylla Rodrigues é formada em Jornalismo pela Faculdade Alves Faria (ALFA). Já trabalhou em redações como Diário da Manhã e O Hoje, em assessorias de imprensa, sendo uma delas do governador de Goiás, além de telejornais como Band e Record, onde exerce o cargo de repórter atualmente.
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