Alongamento ósseo é para todas as idades

O fim de semana prolongado está sendo marcado pela realização do 3º Encontro Somos Todos Gigantes. Dessa vez totalmente digital, por causa da pandemia de Covid-19, o evento teve todos os ingredientes dos encontros anteriores, como palestras com especialistas, atrações para as crianças e espaço para troca de experiências.

Um dos participantes foi o ortopedista Samuel Diniz Filho. Especialista em alongamento ósseo, ele explicou como é feito o procedimento, da preparação à recuperação. Nesta entrevista ao Instituto Nacional de Nanismo, Diniz Filho resume aquelas que são as principais dúvidas de pais e filhos que pensam em passar pela cirurgia. Neste domingo, dia 1º, segundo dia do encontro, ainda tem muito mais (veja programação logo abaixo da entrevista).

Instituto Nacional de Nanismo – A cirurgia para alongamento ósseo é recomendada para quais casos?

Praticamente todos. A acondroplasia é uma das indicações mais precisas e absolutas para esse tipo de procedimento. Conseguimos restabelecer uma proporção do crescimento do tronco e membros superiores e inferiores. Há uma melhoria grande na qualidade de vida do paciente.

INN – Quais são as principais dúvidas dos pais, quando pensam em levar os filhos para esse procedimento?

As principais dúvidas são se é possível fazer o alongamento ósseo do filho, qual a idade que se pode iniciar o tratamento e o tempo de recuperação.

Em relação à idade, é a partir do momento em que ele consegue colaborar com o tratamento, tem o desenvolvimento psicológico suficiente para ajudar e entender o tratamento. Segundo estudos, gira entre 8 a 10 anos. Essa é a idade ideal para se iniciar o alongamento.

O tempo de tratamento depende muito do quanto será alongado. Em média, um alongamento de oito a dez centímetros na tíbia tem cerca de dez meses de recuperação total. Então, a recuperação depende do quando será e o quanto se conseguirá alongar.

INN – Há um limite de idade?

Não há limite de idade para se realizar o alongamento ósseo. Ele pode começar já na infância, normalmente de oito a dez anos. Na fase adulta, pode ser realizado sem qualquer tipo de comprometimento.

INN – Quais os resultados possíveis, em termos de ganho de altura?

Normalmente, quando se alonga as tíbias – as canelas – o ganho é entre oito, nove centímetros, podendo chegar a 13 centímetros. Isso varia de caso a caso. Depende de uma série de fatores, principalmente a tolerância das partes moles, como vasos e nervos, que também são alongados no processo.

Quando o alongamento é associado ao fêmur, conseguimos um poco mais, em torno de 13 a 15 centímetros. Então, é possível ganhar de 20 a 25 centímetros.

No úmero, quanto se alonga os membros superiores, normalmente se consegue um ganho de cinco a sete centímetros.

INN – Além do ganho de altura, há outros benefícios?

O ganho de estatura já é um grande benefício. As pessoas com estatura muito baixa têm dificuldades. Por exemplo, não conseguem conduzir um veículo, não conseguem ser atendidos em um balcão ou pegar objetos em prateleiras em supermercados.

O ganho de estatura melhora muito a qualidade de vida. Facilita, também, a locomoção, pois aumenta a passada, a pessoa consegue andar com mais facilidade e menos esforço. Para a prática esportiva, o alongamento também traz um benefício muito grande.

INN – Existem riscos na cirurgia? Quais são?

Pode ocorrer a não formação do osso regenerado. Para fazer o alongamento, faz-se um corte no osso e promove-se uma distração naquele foco em torno de um milímetro por dia. Onde ocorre o distanciamento entre um fragmento e outro, forma-se o osso regenerado pelo próprio organismo. A não formação do osso regenerado é uma complicação pouco comum, mas acontece.

As infecções nos pinos dos fixadores é outra complicação, mas é conduzida mais facilmente.

Contraturas musculares normalmente são evitadas com fisioterapia, que começa logo após o tratamento cirúrgico.

A dor, em alguns pacientes, pode ser mais pronunciada, mas também é facilmente controlada com medicações de altíssima qualidade que temos hoje em dia.

Há ainda possibilidade de alterações vasculares, como edemas em membros inferiores, e lesões neurológicas.

Porém, na nossa prática clínica diária, essas complicações são praticamente inexistentes porque as técnicas estão bastante avançadas. Já somos sabedores das complicações que podem advir do tratamento e, antes que elas ocorram, sempre é possível algum procedimento para evitá-las.

O tratamento, quando bem conduzido e quando há colaboração do paciente, a expectativa é que evolua bem, sem grandes complicações e com resultados finais bastantes satisfatórios.  

INN – Como é a preparação para a cirurgia?

É basicamente como em todas as outras cirurgias. Exames de sangue, avaliação cardiológica, que a gente chama de risco cirúrgico, e um estudo radiológico bem feito do paciente, buscando detectar possíveis deformidades que precisam ser corrigidas ao mesmo tempo em que se faz o alongamento ósseo.

Também inclui um bom exame físico, para detectar algum tipo de contratura muscular que possa existir.

INN – Qual período de recuperação, normalmente?

Ele é bastante variável. Quanto maior o alongamento que se consegue, maior o tempo de permanência com o fixador. Normalmente, para as cirurgias onde se alonga um milímetro por dia – que começa normalmente dez dias após a cirurgia -, são 70 dias para alongar 7 centímetros, por exemplo.

O tempo de permanência com o fixador após o término do alongamento, quando se aguarda a formação do osso regenerado, é em torno de três vezes o tempo que se demandou para alongar. 

Programação de domingo, dia 1º:

09h: Abertura Instituto Nacional de Nanismo (Juliana Yamin e Marlos Nogueira)

09:30h: Tempo de Criança com Maria Sem-Vergonha (Veca Ned)

10h: Pesquisas e Perspectivas no Tratamento de Displasias Ósseas (Dr. Morrys Kaisermann, médico, pesquisador e autor do Blog Tratando a Acondroplasia).

11h: Estratégias contra o Sobrepeso (Dr. Weder Willian, Especialista em Nutrologia Médica)

12h: O Zoom é Nosso! Microfones abertos para Bate-Papo!

13h: Encerramento! Marlos e Juliana (INN) e Paulo Gonçalves Borges Júnior (Presidente do Instituto Total)

Rodrigo Hirose

Comentários

5 respostas

  1. Mesmo não tendo participado deste evento fiquei deveras interessante emocionado,pois minha nossa filha que se chama hadassa, é uma gigante muito inteligente, nós temos aprendido muito com ela, nós amamos todos vocês.
    Abraços

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