Acessibilidade das crianças com nanismo: adaptações que geram autonomia!

Isis Pilar, do Nanismo Brasil

Enquanto pais de crianças PCDs tentam preparar os filhos para o mundo, descobrem que o mundo não está preparado para recebê-los da forma que deveria. Isso porque nem sempre temos – por parte de órgãos competentes e instituições privadas – adaptações devidas que os transportes, banheiros, veículos, vias públicas, móveis, aparelhos eletrônicos e outros itens deveriam possuir para garantir acessibilidade para as pessoas com deficiência. Quando falamos das crianças, o que ocorre é que por conta própria, famílias buscam formas de incentivar e garantir a autonomia dentro e fora de casa.

Para incentivar e mostrar que é possível, com muito amor e vontade, vamos compartilhar aqui com vocês algumas formas de adaptações que os pais de crianças com nanismo criaram em alguns ambientes, objetos, brinquedos a fim de facilitar o dia-a-dia. O objetivo comum:  mais acessibilidade e autonomia. Cada um com seu amor, com seu olhar, com suas particularidades e com uma necessidade de adaptação diferente.

Escada, cama e lavatório

Juliana Farias, mamãe do Enzo, de 8 anos, que tem acondroplasia, o tipo mais comum de nanismo, optou por adaptar alguns itens para facilitar a rotina dele. A ideia é garantir que ele tenha mais facilidade para exercer algumas atividades que podem ser consideradas simples, mas que são essenciais para fortalecer sua autonomia e independência.

  • Corrimão na escada de casa: o corrimão foi feito conforme altura do braço para melhor alcance do Enzo, já que por ser criança, a segurança é primordial. O fato do encurtamento das pernas para subir e descer degraus também dificulta um pouco mais o equilíbrio. Sendo assim, com a ajuda do corrimão, Enzo consegue ter acesso à escada sozinho, com segurança e sempre que necessário.
  •  Cama no nível do chão: no quarto do Enzo, a cama é do tipo Montessoriana, ou seja, em nível baixo. Pois assim estimula a evolução e desenvolvimento da criança através da liberdade e autonomia e ir para a cama e sair dela quando quiser. Além, é claro, de ser mais segura e evitar quedas.
  • Lavatório no banheiro mais baixo: como uma forma de garantir a segurança, saúde e felicidade em fazer a tarefa com autonomia, a pia do banheiro foi feita em altura reduzida. Assim a criança pode fazer sua higiene de forma segura, confortável e feliz, pois ele consegue alcançar a pia, a torneira, seus objetos pessoais sem ajuda.

Bicicleta, cadeirinha e carteira escolar

Preparar ambientes para crianças exige muito amor e um olhar de muita empatia e respeito. É necessário pensar cuidadosamente na elaboração e de como os pequenos vão poder aproveitá-lo da melhor forma possível. Temos sempre que prezar além da acessibilidade, pela segurança e conforto. E foi assim que a Maria Istela, mamãe do José Eduardo, acondroplásico, de 6 anos, fez.

  • Bicicleta infantil: o modelo que o José Eduardo usa é uma bicicleta de aro 12, a menor do mercado. Normalmente, crianças entre 2 e 3 anos já conseguem andar nessa bicicleta e se movimentar normalmente. Nesta idade, em média, já alcançam os pedais e iniciam o aprendizado de pedalar e se divertir. Já a criança com nanismo nessa faixa etária tem dificuldade para sentar sozinha, alcançar os pedais e segurar o guidão para guiar a bicicleta. Isso ocorre devido ao encurtamento dos membros (braços e pernas), uma das características da pessoa com nanismo. 

O ajuste de altura “padrão” do assento do banco da bicicleta ainda fica alto (mesmo ele estando no nível mais baixo), então foi feita a adaptação também no banco. Por que esperar ele completar 5 ou 6 anos de idade para ter a possibilidade de brincar com uma bicicleta de aro 12, sendo que, com essa idade, a criança já pode usar a bicicleta de aro 14 ou 16?

“Resolvemos fazer essa adaptação na bicicleta do José Eduardo, para dar oportunidade a ele de curtir algo que ele ama e tanto queria. Além de garantir a ele a liberdade e acessibilidade em um brinquedo tão comum para as crianças da sua idade”, explica a mãe. O José Lino, pai do José Eduardo, foi quem pesquisou e viu que seria possível realizar a modificação.

Cadeirinha de bicicleta: de forma geral, a cadeirinha pode ser encaixada tanto na parte dianteira quanto na parte traseira da bicicleta, para carregar a criança. José Eduardo usa a sua cadeirinha na parte dianteira da bicicleta. E, para maior conforto, foi feita adaptação na altura do apoio para os pés e também no apoio para as mãos da criança devido ao encurtamento dos membros (braços e pernas). O apoio acessível é importante para segurança e conforto da criança. Assim o José Eduardo pode acompanhar os pais nos passeios de bicicleta e aproveitar bastante!

  • Carteira escolar: a adaptação foi feita para garantir uma melhor acessibilidade, segurança, conforto para ele no ambiente escolar. As mudanças foram feitas no mesmo modelo da mesinha usada também pelos outros alunos, tendo pequenas modificações como: suporte para os pés e elevação do encosto das costas para um ter uma postura confortável, sem prejudicar a coluna e articulações. É muito importante ressaltar que a escola está aberta às mudanças e adaptações necessárias para que o José Eduardo tenha uma qualidade no ambiente escolar.

Guarda-roupas, penteadeira e bancada

Priscilla Dornellas e Fábio Caldeira, pais da Mel, de 3 anos, que tem acondroplasia, também fizeram modificações simples em sua casa para que o ambiente ficasse mais seguro, agradável e deixasse a Mel mais independente!  

  • Guarda-roupa com ganchos para acessórios: O guarda-roupas é um móvel do quarto que também estimula a autonomia da criança. Então os pais da Mel o deixaram com fácil acesso, que permite que a Mel abra, feche e mexa nos pertences que ficam mais visíveis. Assim, ela pode escolher melhor o que irá usar. Araras, gavetas e sapateira agora podem ser alcançadas pela Mel. A ideia era que ela pudesse escolher as próprias roupas, calçados e acessórios.

Foram acrescentados ganchos na lateral interna do guarda-roupa, na altura da Mel, para pendurar os laços e acessórios. Isso porque, com o encurtamento dos membros (braços e pernas), as caixas e gavetas podem não ser tão acessíveis dependendo das medidas da largura, altura e profundidade. 

  • Penteadeira e bancada para tarefas: ao invés de alterar a altura do móvel, foi feito um móvel portátil com 2 degraus, que ajusta a altura da bancada e penteadeira a altura da Mel. Além também de servir para ela ter acesso à sua cama, subindo e descendo, os degraus desse móvel foram feitos conforme medidas da perna da Mel. Por isso a opção por 2 degraus. O móvel pode ser empurrado para qualquer lugar com facilidade e possui pezinhos de metal. Também foi feito com uma largura que permite que o segundo (último) degrau seja usado como um apoio para a Mel se assentar e fazer suas atividades. Ou seja, além de ser uma escadinha, é também um banquinho pra ela assentar.

“Conforme as fotos, pode ser percebido que com a ajuda do móvel, a Mel pode usar sua penteadeira, sua cama e também realizar suas tarefas na bancada. Na bancada também teve uma adaptação na altura, para que fique mais baixa, colocamos uma base retrátil. Assim ela consegue apoiar melhor seus braços sobre a bancada, deixando sua atividade mais confortável e mais acessível. Não foi feito a adaptação em toda bancada, e nem em todo o ambiente do quarto porque a Mel compartilha o quarto com sua irmã, Carol de 7 anos, que não tem nanismo. E com o uso do móvel com degraus, o quarto fica acessível, seguro e confortável para ambas utilizarem”, explica Priscilla.

Escada para banheiro e cozinha

  • Escada para acesso ao banheiro e cozinha: para a Mel desenvolver sua autonomia e independência, foi feita uma escada sob medida para ela usar a pia do banheiro, cozinha ou outro local onde a criança necessite de auxílio pela altura. A escada foi feita com a altura do apoio para as mãos conforme a altura de alcance dos braços da Mel. Foi medida a largura (espaçamento entre as mãos direita e esquerda para apoio) e também a altura dos braços dela (devido ao encurtamento dos membros), para assim ficar mais seguro quando ela for segurar e apoiar ao subir e descer a escada.

Outra medida que os pais consideraram foi o tamanho do pé dela, ou seja, a profundidade de cada degrau foi construído conforme o tamanho do pé, para que a base de apoio dos pés ficasse confortável e na medida pra ela. Outro detalhe, foi a altura de cada degrau. Os pais mediram a altura da pisada da Mel: com o joelho flexionado, foi medido da altura do pé até o chão. Para que ao subir e descer ela não tivesse dificuldade com a altura do degrau.  

IMPORTANTE! O processo de adaptação, acessibilidade, desenvolvimento e autonomia pode ser lento e gradual, mas precisa respeitar o tempo de cada criança. 

Catherine Moraes

Jornalista por formação e apaixonada pelo poder da escrita. Do tipo que acredita que a informação pode mudar o mundo, pra melhor!
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