Proibido em países como o Canadá e não recomendado no Brasil e na Europa, o andador pode atrasar o desenvolvimento natural das crianças fazendo com que elas demorem ainda mais a andar e pulem etapas importantes como engatinhar. O produto, que é comercializado há décadas, aumenta o risco de traumatismo craniano e pode ser ainda mais prejudicial para crianças com nanismo que geralmente já possuem características como membros encurtados e curvados.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem uma campanha pedindo a proibição do andador no país desde 2013. Representante da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP) e diretora técnica do Instituto Nacional de Nanismo (INN), Simone Silva Ramos explica que a utilização dos equipamentos pode ocasionar alterações de quadril, que já são muito comuns em crianças com nanismo. “Nas crianças com nanismo precisamos ainda de mais fortalecimento de musculatura com frequentemente hipotonia”, acrescenta.
Preceptora de residência de terapia ocupacional do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), Michele Vaz explica que as crianças que utilizam os andadores pulam etapas importantes como engatinhar, que é um processo extremamente importante, inclusive para o equilíbrio. “Crianças que pulam esta etapa podem ter uma marcha mais prejudicada. Além disso, há alteração no alinhamento das pernas. As crianças podem ficar com as pernas arqueadas e também aprendem a andar com a ponta dos pés”, pontua.
A cada três crianças que utilizam o andador, uma tem potencial risco de traumatismo craniano grave. A pediatra Simone Silva Ramos diz que o objeto começou a ser utilizado ainda no século XIV, quando se acreditava que ele encorajaria a criança a ter uma postura vertical adequada. No Canadá é proibido desde 2007. Apesar de prático e atrativo, faz com que as crianças demorem mais tempo no desenvolvimento natural para ficar de pé e caminhar sem apoio.
Michele Vaz afirma que o risco pode ser ainda maior para crianças com nanismo. “Crianças com nanismo já possuem características como membros mais encurtados e curvos, com braços e coxas mais reduzidas, pés planos, pequenos e largos. Além disso, ainda temos a diferença no tamanho da cabeça proporcionalmente ao corpo, o que coloca mais em risco ainda quedas e traumatismo cranianos graves. Para estas crianças, geralmente o início do andar se dá por volta de 18 meses. O andador pode atrasar ainda mais”, completa a terapeuta ocupacional.
Como estimular?
A terapeuta ocupacional Michel Vaz afirma que o ideal é respeitar as linhas de desenvolvimento das crianças e buscar profissionais adequados que possam auxiliar de uma forma natural. A pediatra Simone Silva Ramos diz também que é importante que o bebê aprenda a sentar, engatinhar e só depois seja estimulado a andar. Também podem ser usados banquinhos (como o da foto) para que aprendam a elevar o quadril, se colocar de joelhos e depois se levantarem.