Psicólogas falam sobre bullying

A sequência da série de reportagens sobre formas de resistir ao bullying traz entrevistas de duas profissionais sobre o assunto

A sequência da série de reportagens sobre formas de resistir ao bullying traz entrevistas de duas profissionais sobre o assunto

Veja a opinião de duas psicólogas sobre o bullying, formas de entender e reagir. Andréia Martins da Silva, 46, psicóloga e psicopedagoga especializada em crianças e adolescentes aborda o tema mais focada na perspectiva infantil. Já Nádia C. O. Santana, 40, psicoterapeuta existencial e mestre em psicologia se concentra na orientação dos pais que é sua especialidade. Ambas atendem na capital goiana e você pode obter mais informações sobre o atendimento na sessão Profissionais do nosso portal.

 

A próxima matéria da série Como ensinar seus filhos a resistirem ao bullying vai trazer a opinião de dois psiquiatras, com o objetivo de discutir o assunto sob o ponto de vista médico e instruir pais e crianças sobre formas de manter a saúde emocional.

 

Confira agora o quê as especialistas têm a dizer:

 

Andréia Martins da Silva, 46

Foto de Arquivo

Psicóloga

 

#STG – Bullying: Antigamente não existia este conceito. Será que as crianças não eram mais resistentes a este comportamento? A noção do bullying fragiliza mais a vítima?

Psicóloga Andréia – Por mais que antigamente não existisse o conceito, existia o comportamento. A denominação é recente, mas o fonema “bullying” é antigo e se repete continuamente em todo o mundo.

O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully que significa valentão, brigão. Apesar de não ter essa palavra específica em português, pode ser traduzido como ameaça, tirania, opressão, intimidação e maltrato.

É extremamente importante a consciência desse fenômeno, pois além de alertar as vítimas pode se propor auxílio à elas. A psicoterapia pode, neste caso, contribuir para o fortalecimento da resiliência e a interrupção do círculo de violência do bullying.

“Dar um nome” à uma violência velada que permeia a sociedade há anos pode auxiliar a busca por essa ajuda através de um trabalho de valorização humana, desconstrução de preconceitos e desenvolvimento de autoestima. Claro que é necessário diferenciar e classificar o bullying correta e justamente.

Para que uma situação seja nomeada de bullying é necessário que a agressão ocorra entre pares (colegas de classe, trabalho). Todo bullying é uma agressão, mas nem toda agressão pode ser classificada de bullying.

 

#STG – Se o preconceito não pertence à vítima, como ensinar os filhos a não interiorizar o bullying? Não achar que de alguma forma é sua culpa?

Psicóloga Andréia – A pessoa que é objeto de bullying poderá ser prisioneira de uma visão de si mesma bastante prejudicada, pois ser alvo de bullying resulta em uma auto imagem de incapacidade e impotência, acrescida por sentimentos de desvalorização e abandono.

A melhor forma de enfrentar tal prisão é promover a resiliência. Ser resiliente é desenvolver uma capacidade de reconhecer o perigo diante de uma situação de estresse, sentir-se por ele atingido e demonstrar que é possível se recuperar e prosseguir.

Famílias, filhos e terapeutas precisam caminhar juntos com a visão de que embora o ambiente apresente riscos, apresenta também fatores que podem proteger as pessoas, possibilitando a construção da resiliência e do fortalecimento do ego, evitando possíveis ideias de culpa por parte da vítima.

 

#STG – Como os pais podem convencer uma criança que começa a se sentir diferente que a diferença é normal?

Psicóloga Andréia – Uma das questões é qual o “olhar” da família dessa criança para o que é instituído como normalidade ou não.  Necessariamente os primeiros contatos ocorrem dentro do contexto familiar e a maneira se lida com a criança é fundamental para o desenvolvimento de sua autoestima.

É importante saber qual o valor dado pelo indivíduo e sua família às adversidades. Se a reflexão e a interpretação do meio é feita desde o início com naturalidade pelos pais, esse processo se dá de forma mais natural também para os filhos.

Pessoas são todas diferentes umas das outras, cada um em seu padrão e estrutura, seja física, social, cognitiva ou emocional. Estas diferenças não podem ser duramente encaradas como defeitos ou qualidades, mas como características individuais e familiares.

 

#STG – Alguns chegam a entrar em depressão por conta da baixa estatura. Não querem sair de casa. Têm vergonha das pessoas. Como lidar com estes casos? Tem alguma dica para estimular o olhar deles para além da estética?

Psicóloga Andréia – A intensidade do sofrimento geralmente depende da relação entre os eventos e a capacidade e força egóica da pessoa que sofre. Quanto mais for possível prever e acionar defesas, menos graves serão os quadros depressivos.

Os pais são grandes aliados dos filhos nestes momentos. Promover através da relação com o filho o fortalecimento de sua autoestima desde pequeno auxilia imensamente. (Veja o exemplo disso na relação pai e filho travada pelos personagens do filme “Little Boy“, listado como sugestão na segunda matéria a série sobre bullying).

Faz-se necessário buscar profissionais que auxiliem a criança e a família a reconhecer que é possível superar o sofrimento psíquico. As perspectivas de ação pelo direito da cidadania, o fortalecimento de uma atitude de auto aceitação, de autoconfiança, em suma, de resiliência, a família possa perceber que a baixa estatura não pode ser o foco de um ser humano gigante.

 

#STG – As adaptações em casa e na escola fazem bem ou mal para autoafirmação e autoestima?

Psicóloga Andréia – A partir de 2004, quando o nanismo foi incluído na lei de cotas para deficientes no mercado de trabalho, o próprio meio teve que fazer algumas alterações para adaptar o ambiente à pessoas com nanismo.

Mesmo anteriormente, a Constituição Federal de 1988 enaltece que os seres humanos são igualmente detentores de direitos, deveres e obrigações. Desta forma, claramente os direitos de circularem à vontade e com conforto são estabelecidos.

Sabemos, entretanto que nem sempre estes direitos são respeitados. Ter um espaço onde os mesmos possam ser considerados, é uma forma de incluir e valorizar a criança, o jovem e o os adultos portadores de nanismo. O que destrói a autoestima é o desrespeito e desconsideração sejam expressos em formas físicas, materiais ou relacionais.

 

#STG – A adolescência é a fase onde geralmente os pequenos sentem mais o preconceito social. Como os pais podem se preparar para esta fase e preparar os filhos?

Psicóloga Andréia – Em especial a adolescência é um período marcado por diversas mudanças na área biopsicosocial, bem como um período que propicia a sensação de vulnerabilidade para muitos adolescentes.

Nesta fase, o adolescente costuma valorizar bastante o vínculo com seus pares. Busca conhecer e explorar novas situações.

Neste momento, em especial para nossos gigantes, a relação que os pais estabeleceram desde a infância terá uma influência ilimitada.

Não há como evitar a vulnerabilidade (vulnus = ferida) neste período, porém a capacidade de resiliência que foi plantada desde a infância pode e deve fortalecer durante esta etapa.

É a resiliência que irá favorecer um desenvolvimento sadio mesmo que o indivíduo esteja inserido num ambiente não adaptado, não se deixando sucumbir por ele. Por isso o preparo dos filhos começa, sem dúvida desde a gestação e segue seu curso.

 

Nádia C. O. Santana, 40

Foto de Arquivo

Mestre

 

#STG – Quando fica sabendo que terá um bebê com nanismo, uma criança que vai sofrer mais limitações que alguém de média estatura, muitas mães se desesperam. Como a terapia poderia ajudar os pais a lidar com a gravidez?

Psicóloga Nádia – A Psicoterapia, neste caso, visa ampliar a visão dos pais além do que é estabelecido pela cultura do preconceito. Conscientizá-los dos seus potenciais para lidar com a situação. E refletir sobre o direito ético à vida.

 

#STG – Como os pais podem ensinar as crianças a superarem os olhares maldosos?

Psicóloga Nádia – A melhor e talvez única maneira de ensinar isso é trabalhando em si (pais) o preconceito e ampliando o respeito. Se os pais as respeitarem, ensinarão as crianças a se respeitarem. E respeitando a si mesmo, o olhar do outro não o ferirá.

Grupos informativos e de troca de experiências para os familiares é um caminho muito positivo. O grupo fortalece.

 

#STG – Como abordar o assunto nas rodas sociais para evitar o preconceito? Como proceder em relação à família e escola para que a criança tenha qualidade de vida e firmeza emocional?

Psicóloga Nádia – A informação e o respeito são os antídotos contra o preconceito. De forma nenhuma é indicado que se façam piadas, por mais inocentes que possam parecer.

O preconceito acontece, entre outras coisas, por falta de informações. Quando se mostra a realidade, está-se informando. Ninguém muda ninguém com a crítica. Também não mudamos a sociedade criticando. Podemos mudar, informando (sem drama) como nos sentimos em relação às situações.

E voltando à tecla do respeito, se nos respeitamos, apresentamos nossa situação de maneira respeitosa, o que já faz com que o outro nos respeite um pouco mais.

 

#STG – A ampla discussão do bullying torna as crianças da atualidade mais frágeis?

Psicóloga Nádia – O bullying sempre existiu. É preciso combatê-lo. Mas não é possível exterminá-lo. Por isso, precisamos nos preocupar com uma educação promotora de saúde emocional, de autoestima e de respeito a si mesmo e aos outros. Assim, os efeitos do bullying serão amplamente minimizados.

 

#STG – O fato deste comportamento ser socialmente aceito há alguns anos tornava as crianças mais resistentes às pressões sociais?

Psicóloga Nádia – Não acredito que nenhuma forma de crítica fortaleça, desenvolva ou nem mesmo promova mudança. A crítica pejorativa é uma agressão.

 

#STG – Um adulto, já amargurado por uma vida de limitações, dores e preconceito, pode se beneficiar de terapia também?

Psicóloga Nádia – Sem dúvida nenhuma. Esse é o grande objetivo da psicoterapia: trabalhar as dores, fortalecer emocionalmente, ressignificar, tornar o indivíduo responsável pelo seu bem estar.

 

#STG – Qual a sua sugestão para quem sofre de bullying a ponto de não mais sentir vontade de conviver em sociedade?

Psicóloga Nádia – Indico uma intervenção multidisciplinar. Caso fosse meu paciente, eu faria uma Avaliação Profunda de Personalidade, para verificar como está a estrutura psicológica, provavelmente indicaria um tratamento biomédico, evitando a intervenção com medicações psiquiátricas e, nos casos mais graves, o psiquiatra também auxiliaria.

 

#STG – Você acredita que a internet aumentou a incidência de transtornos emocionais relacionados ao bullying? Por que?

Psicóloga Nádia – Acredito que está mais fácil porque as pessoas ficam menos receosas, mais corajosas em ter esse tipo de comportamento na internet do que pessoalmente. É mais grave porque a quantidade de pessoas que “assistem” é maior. E quanto maior a plateia, mais exposição, mais vergonha, mais sofrimento.

 

#STG – Qual a idade certa para uma criança ter acesso livre à internet? Você indica o uso de equipamentos eletrônicos desde criança?

Psicóloga Nádia – Na minha opinião, o acesso à internet nunca deve ser livre para a criança. Sempre supervisionado e limitado em tempo.

Não tem como fugir do uso dos equipamentos eletrônicos mas ele deve ser restringido ao mínimo possível.

 

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Rafaela Toledo

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