Exclusivo: Juliana Caldas solta o verbo no #STG

Foto: PurePeople

Foto: Pure People

“Eu queria eu mudar o mundo mas não depende só de mim mas de cada um”. 

Finalmente, depois de muita espera, chegou o momento de estreia da atriz Juliana Caldas na novela das 9, “O Outro Lado do Paraíso”. No último dia 24, segundo dia de novela, sua personagem Estela volta da Suíça, onde passou boa parte da vida, para a contrariedade de Sofia, mãe da personagem vivida pela irretocável Marieta Severo. Na pele da grande vilã da nova trama de Walcyr Carrasco, Marieta é perversa e preconceituosa. Tem vergonha da filha e a trata com desdém.

Assista aqui as primeiras cenas de Estela, com imagens do GShow.

A polêmica já foi instalada, logo nas primeiras aparições de Juliana. Apesar das cenas impactantes e palavras fortes, tradicionais das peças dramáticas da Rede Globo, o dueto cenográfico entre mãe e filha vai trazer o foco da atenção de todo o Brasil para o problema do preconceito e seus efeitos. Mas o mais importante é chamar atenção para o que a maioria não vê. Aquilo que é diferente.

Assista Estela pedindo adaptações para sua casa, com imagens do GShow.

Nós temos mania de nos concentrarmos em nossas próprias vidas, nossas necessidades, esquecendo que o coletivo é a soma de vários individuais. Cada um com sua contribuição ou limitação. A diferença de todos é o que nos torna únicos. Dentro de nossas habilidades, somos TODOS gigantes.

Assista Gael defendendo Estela, em imagens do Show.

Mas a gente só vê o que olha. Nem sempre as diferenças estão diante de nós porque dificilmente paramos para olhar o que não está diretamente ligado à nossa vivência. Por isso, a Juliana chegou na Globo para chocar mesmo. Chamar atenção para o que a maioria não vê mas existe. Lembrar o intolerável. Tocar o dedo na ferida.

Estela desabafa sobre de sentir excluída pela mãe, no GShow.

Em enquete realizada no perfil do #STG no Facebook, percebemos que a maioria dos participantes está entusiasmada com a interpretação da atriz e por mais chocante que sejam as cenas de discriminação, com o debate público sobre o assunto.

Infelizmente sabemos que o preconceito começa na própria família, mas tenho a certeza de que esse tema na novela irá ajudar e muito a população entender o que é o nanismo, fazendo com que as pessoas passem a ter mais respeito com as diferenças”, comentou Marisa Ramos na enquete sobre a personagem em nosso perfil do Facebook.

Temas como acessibilidade já foram pautados na primeira semana de enredo, dentro do próprio núcleo familiar de Estela. Ela insiste com a mãe por adaptações na casa e encontra resistência mas a baixa estatura e os desdobramentos de uma vida em um corpo menor já entraram em cena.

Muito esperada no 2º Congresso de Nanismo que aconteceu nos últimos dias 14 e 15 de outubro, no Rio de Janeiro, a atriz não deixou de comparecer e apoiar a luta pelos direitos e união das pessoas com nanismo. Muito gentil e receptiva, ela aceitou conversar com a reportagem do Somos Todos Gigantes, sem entrar nos pormenores da novela. Em uma conversa descontraída mas inspirada, ela nos concedeu entrevista exclusiva e falou um pouco sobre como é a responsabilidade de encarnar o nanismo na TV, dentro de uma perspectiva diferente da paródia.

Foto: Robert Carraco

Foto de Robert Carraco
Juliana Caldas vai interpretar Estela, filha de Marieta Severo que sofre preconceito, na novela das 9.

Acompanhe conosco e não deixe de curtir, comentar e compartilhar. O seu engajamento é o que nos torna Gigantes!

STG – Como é trazer o assunto do Nanismo a um público tão denso?

Juliana: O assunto você sabe que existe. Nós somos milhões e milhões já. Não é um só, entendeu? Só que eles não dão essa visibilidade. É óbvio que agora tendo essa visibilidade da novela muito mais pessoas vão saber que existimos e vão reconhecer. Só que, enfim, demorou anos…

Se você for parar para pensar em um anão, a primeira coisa que você pensa é em uma chacota. Não é que não existe e não foi falado. Só que foi falado no estilo de chacota. Então você nem dá atenção para aquilo.

Foto: Tv Foco

Foto: Tv Foco
Walcyr Carrasco, autor da novela e da personagem Estela, ao lado de Juliana Caldas

STG – Você já fez alguma comédia?

Juliana: Já fiz sim, e também fiz programas de humor. Mas eu sempre perguntei antes do programa porque se tivesse alguma coisa de piadinha [com a condição], eu dizia que não aceito.

Antes de mais nada, a gente é atriz. Mesmo que você faça um programa polêmico, se você se der o respeito, as pessoas vão te respeitar e vão aceitar.

STG – Mesmo quando usam a palavra Anão?

Juliana: Isso já uma piada. No modo de vida politicamente correto, você não pode mais falar uma coisa que você é!

STG – Você algum dia se ofendeu com essa palavra? Ou você aprendeu a não se ofender com ela? Ou nunca foi problema para você?

Juliana: Não. Mas a partir do momento que eu percebo que há um desrespeito, é óbvio que ofende. Mas é a conotação que me incomoda. Com a conotação você vê o que a pessoa vai fazer, como ela vai agir e suas atitudes em relação a você.

Só que quando eu olho para as pessoas preconceituosas, eu penso: tá bom! Fica aí com seu pensamento pequenino. Enquanto isso estou fazendo meu trabalho e levando informações.

Eu não brigo por coisas pequenas. Valorizo minha vida. Minha pessoa. Meu trabalho. Enfim, mais do que me importar com uma pessoa porque me chamou de anã…

Foto: G1

Foto: G1
Juliana na coletiva de imprensa de O Outro Lado do Paraíso.

STG – Em relação à novela, o que você acha de levantar essa história de um ponto de vista agressivo? Vai abrir o olho das pessoas? Como você lida com essa parte?

Juliana: Antes de mais nada, isso é uma ficção. Essa agressão que vai ter é de muito peso e não significa que é verdade. Isso é uma contação de história. Eu, como atriz, estou contando essa história. No meu pensamento, às vezes é necessário um chaqualhão para a pessoa parar e pensar sobre o que foi uma vírgula daquela frase. Porque do contrário, a situação continua a mesma.

Antes de mais nada é uma ficção. Uma história contada. Da mesma forma que, por exemplo, já houveram outras novelas que falaram de algum tipo de deficiência, como Amor da Vida, da menina do autismo, também do Walcir.

É óbvio que talvez não houvesse aquele nível de autismo vivido pela personagem da atriz Bruna Linzmeyer. Mas talvez, se fosse com menos intensidade, não chamaria tanta atenção para o tema do autismo.

Logo depois começou a se conversar sobre o autismo e todo mundo entendeu os vários níveis do autismo.

Então é isso, se não der um chaqualhão, não chama atenção. É nesse sentido que pesa mais, pelo menos até agora. Mesmo que as pessoas se incomodem: “Olha lá, está chamando de anã. Olha! Está chamando de mostro, boba da corte”… Mas todo mundo sempre chamou a gente assim, só que ninguém sabe. A gente, eu digo de forma geral porque nunca passei por isso. Só a parte de ser apontada como anã.

STG – Então você não passou por bullying na escola?

Juliana: Não. A única coisa que me chamavam era anã ou anãzinha. Pelo contrário. Tinha muita superproteção dos amigos e das pessoas. E isso me injuriava. Porque eu queria rolar na areia e não podia bater a cabeça, por exemplo. Eu dizia que queria fazer as coisas e eles queriam me proteger de tudo. Era isso que me incomodava.

E como eu disse, é óbvio que ali na novela, pelo fato de ter esse peso, vão ser focados ali naquela família todos os preconceitos que a gente vive em sociedade. Serão na própria família todos os problemas e o debate de vários temas da atualidade como rejeição e preconceito. A acessibilidade também será pautada na novela.

Foto: Revista Quem

Foto: Revista Quem
Juliana não esconde a fibra e prefere focar em si mesma do que no que os outros pensam.

STG – E seu coração? Está ocupado?

Juliana: Tá ocupado! De muito trabalho, ansiedade, nervoso, felicidade (rs)… A novela vai ao ar dia 23 de Outubro. Estou tomando cuidado, não só para abordar esse tema, mas também o do preconceito e do respeito. Todas as pessoas merecem respeito e com essa possibilidade, vou tentar. Contando a história da personagem. Mas acho que não é só levantar uma bandeira porque eu estou na televisão. Vai depender de cada um levantar sua bandeira e pedir esse respeito porque eu queria mudar o mundo mas não depende só de mim mas de cada um.

STG – Como  você lida com toda a energia que você recebe nas gravações? Deve sair com o coração batendo mais forte.

Juliana: É de arrepiar. Eu lembro que fazendo as preparações, ensaiando com a Marieta, eu comecei a chorar. Por ouvir e saber que existe. Não por ter passado por isso.

E ela, super preocupada, perguntou: você está chorando? Eu disse: estou chorando não porque esteja me afetando e sim porque existem pessoas que falam o que sua personagem fala e sei que existem pessoas que estão ouvindo o que ela fala. Não sou eu, mas me dói. Eu já fiz algumas cenas com ela e de conflitos então eu saio e fico um tempo sem voltar porque fica muito ligada no sentimento que o personagem passa.

STG – E você consegue se desfazer disso?

Juliana: Eu demoro um pouco. Paro. Fico sozinha. E depois passa.

STG – Deve ser maravilhoso contracenar com a Marieta. Como é?

Juliana: A Marieta é uma dama. É mais que dona Nené (rs). De verdade! (rs) Fora que ela é muito generosa.

Foto: Diário de SP

Foto: Diário de SP
Sofia e Estela, personagens de Marieta Severo e Juliana Caldas, respectivamente, em O Outro Lado do Paraíso.

STG – Você sempre gostou de representar?

Juliana: Surgiu logo depois que a minha mãe faleceu e, logo depois, minha vó. Logo em seguida. Eu estava trabalhando e uma amiga minha me chamou para fazer um extra. Eu fui, gostei e comecei a conhecer as pessoas. Fui me interessando e aquilo me ajudando a levar a vida e viver outras coisas. Foi uma ajuda para continuar. Aí não parei mais.

STG – Você estudou teatro?

Juliana: Fiz o teatro da vida. Não fiz faculdade de teatro mas fiz cursos, Workshops. Estudava sozinha com pesquisa. Sou de São Paulo. Muitas vezes eu não acredito que a Marieta está sentada do meu lado. Mas a Marieta, como pessoa, é muito maior do que a artista. Minha admiração por ela é muito grande. Aliás, não só por ela, mas por todos que conheci e convivi ali. É muito incrível. Mas não é fácil não, viu?! Dá muito nervoso! (rs)

Rafaela Toledo

Comentários

Uma resposta

  1. Parabéns à todos da equipe do somos todos gigantes inclusive a jornalista Rafaela Toledo , amei o conteúdo e fico muito feliz em ver a opinião da nossa amiga lindaaaaaaa Juliana Caldas .Estou Muito encantada com vcs , Somos todos Gigantes . Obrigada por essa reportagem importantíssima para nos .E sempre bom saber um ponto de vista diferente a respeito de nossas próprias condições vividas e experiências​ pessoais vividas contadas . São fatos e relatos verídicos . Muito satisfação tenho sentido .

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