Embaixadores da Alegria – Um Carnaval de Todos

A Embaixadores da Alegria apresenta seu 12º carnaval na Marquês de Sapucaí este ano. Formada sobretudo por pessoas com deficiência motora e cognitiva, a escola de samba abre tradicionalmente o desfile das campeãs no sábado do carnaval carioca. Ano passado foram nada menos que 1.400 pessoas a desfilar pela avenida.

Paul Davies, fundador da Embaixadores, é inglês e mora há 30 anos no Brasil. Amigo pessoal de Viviane de Assis, passista, rainha de bateria e musa do nosso carnaval, ele esteve no 2º Congresso de Nanismo, realizado em outubro de 2017, no Rio de Janeiro, prestigiando o evento e a causa do nanismo.

O primeiro desfile da azul e branco foi em 2008, e a tradição se mantém desde então. A escola tem uma ala exclusivamente dedicada às pessoas com nanismo. No último desfile, foram 60 integrantes, e, claro, a veterana Viviane como destaque. Ela volta este ano, ainda como destaque, conciliando sua participação liderando os passistas na Viradouro.

“Já desfilo há cerca de 11 anos na Embaixadores. É uma das minhas favoritas porque é lá que conheço pessoas com diversos tipos de deficiência e, no momento do desfile, ninguém é melhor do que ninguém. Todos desfilamos juntos, cada um com seu jeito. Este ano ainda não sei como será minha fantasia, estou doida para saber”, confidencia a passista contando que sempre participa como destaque da ala do Nanismo na escola.

Dona de um currículo extenso no mundo do carnaval, incluindo dez anos de desfiles pela Viradouro, ela tem uma agenda cheia nesta época. Não falta a nenhum compromisso, mas o coração pula mesmo ao ver a azul e branco entrar na avenida.

“Este ano, como recebi um convite do comentarista da Globo que eu chamo de meu padrinho, o Milton Cunha, para trabalhar junto com ele, não vou conseguir desfilar em outras escolas. Mas de Viradouro e Embaixadores da Alegria, eu não abro mão de jeito nenhum”, comenta Viviane em entrevista exclusiva ao Somos Todos Gigantes.

Ela confidencia que é da Embaixadores que veste a camisa. “E isso é pela beleza de incluir todas as pessoas, com todos os tipos de deficiência. A Embaixadores não está ali para competir, mas para divertir e mostrar que qualquer um é capaz de atravessar a avenida e brincar o carnaval”, elogia ela, que encarnou a Mulher-Gato no carnaval passado e este ano vai assistir o filho desfilar como passista na Estácio de Sá e mestre de sala no Aprendizes do Salgueiro. “Filho de peixe, peixinho é”, brinca.

O início de tudo

Segundo Vivi, o presidente Paul todo ano trabalha muito e luta para estar com a escola na avenida. Como todas as escolas de samba, a Embaixadores também conta com uma equipe de harmonia, para garantir que a agremiação não ultrapasse os 82 minutos de desfile. Há uma intérprete de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) que acompanha tudo para traduzir o que for preciso para as pessoas surdas. Amigos e familiares dos componentes também desfilam.

Embora não siga cobranças rígidas como as feitas às grandes escolas que buscam um título, a Embaixadores da Alegria tem um compromisso com o bem-estar de seus integrantes. Não importa quem tem o corpo ou a fantasia mais bonitos, mas o sorriso mais exuberante e sincero. Por isso, há um cuidado específico para se respeitar o tempo de cada um.

O orgulho em colocar uma escola na Sapucaí com a inclusão em seu DNA é a motivação de Paul Davies para seguir com seu projeto, apesar das dificuldades financeiras. Fundador da escola, ele lamenta a falta de apoio. Ainda assim, não foge da folia.

“A escola faz com que seja possível para todos participarem do maior evento cultural do mundo, que é o carnaval. Ninguém fica de fora. É inclusão social e emocional, diz Paul em entrevista ao blog do jornal O Globo.

Ao chegar ao Rio, o inglês pouco sabia sobre a festa momesca. Um dia, trabalhando como guia, levou turistas para assistir ao desfile na Sapucaí e ficou deslumbrado.

“Senti uma coisa diferente, que ia até a alma, e fiquei maluco. Era fim da madrugada, e a Portela entrava na Avenida. Fui mordido ali pelo carnaval”, relembra o presidente e fundador da Embaixadores da Alegria.

Depois daquele dia, ele já fez de tudo na folia: desde empurrar carro alegórico até trabalhar na Viradouro como responsável por uma ala comercial. No carnaval de 2005, com a escola de Niterói entre as campeãs, Paul sofreu uma contusão enquanto ajudava um casal de idosos a trocar o pneu do carro. Sentindo dores fortíssimas, não pôde desfilar e, ao ver sua ala na Marquês de Sapucaí, chorou “copiosamente”:

“Foi ali que pensei: “Como deve ser para alguém com deficiência ver tudo isso e não participar?’”. Assim acendeu uma luz e nasceu a ideia da Embaixadores.

Desfile 2019

Este ano, as notícias sobre o desfile chegaram um pouco atrasadas porque até agora a escola não conseguiu patrocínio para o desfile que acontecerá no dia 09 de março na Sapucaí, com data já confirmada.

Neste momento de crise, a escola pede para que cada folião participante se apresente com calça (ou bermuda) branca e camiseta branca lisa (como as da Hering, sem manga comprida).

Outra solicitação da Embaixadores é que cada participante se reúna ao seu grupo para receber a pulseira porque há um número limite de participantes que não pode exceder os 3 mil. Os grupos precisam concordar em participar desta forma, com cada folião responsável por sua vestimenta branca.

Interessados em participar devem entrar em contato com Kênia Rio, presidente da Associação de Nanismo do Estado do Rio de Janeiro (ANAERJ), para saber mais detalhes. Até o fechamento desta edição, não conseguimos contato com ela.

A escola de samba ainda tem esperanças de conseguir patrocínio para o desfile deste ano, portanto se você tem condições de ajudar a promover inclusão na maior festa do mundo, este é o momento. Entre em contato conosco pelo email contato@somostodosgigantes.com.br ou diretamente pelo Whatsapp da equipe de jornalismo STG (62) 99962-1011, e vamos te colocar em contato com os administradores do projeto.

É também a chance de mostrar para outros países como nós estamos trabalhando pela igualdade dentro do escopo da sociedade civil. Cada um construindo uma história de maior justiças entre os seres humanos em qualquer que seja o espaço, o ambiente e o tempo onde estamos inseridos.

Pela 12ª vez com a Embaixadores da Alegria na Sapucaí, temos a chance de relevar o debate sobre nanismo não apenas entre circuitos ideológicos nacionais mas entre discussões internacionais sobre o assunto. Vamos colaborar para tornar esta grande festa acessível à todos que queiram participar.

com informações do Blog do O Globo

Rafaela Toledo

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