Pela primeira vez em um Congresso de Nanismo, o ortopedista mestre em medicina pela Santa Casa De São Paulo, especialista em coluna pediátrica e cirurgia minimamente invasiva da coluna falou sobre peculiaridades ortopédicas de pacientes acondroplásicos e casos onde há necessidade de intervenção cirúrgica.
O médico também é instrutor da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Coluna (SBC), da Academia Americana de Cirurgia Ortopédica (AAOS), da Sociedade Norte Americana de Coluna (NASS) e do conselho diretor do capítulo Brasil da AOSpine.
Nelson tem várias publicações, capítulos e apresentações nos principais jornais de ortopedia americanos indexados e em congressos de especialidade. Atua no Grupo de Coluna da Santa Casa De São Paulo desde 2010 e atualmente também atende no Hospital Albert Einstein.
Acompanhe agora um resumo funcional da palestra do especialista no segundo dia de Congresso em Goiânia.
Palestra Dr. Nelson Astur Neto
O médico começou fazendo referência ao Dr. Michael C. Ain, o único ortopedista pediátrico da coluna com Acondroplasia nos Estados Unidos, segundo o palestrante. Ele atua no Hospital Johns Hopkins e tem vários artigos científicos publicados sobre as particularidades ortopédicas da Acondroplasia.
Antes de começar a falar sobre as peculiaridades deste tipo de paciente, o médico explicou superficialmente sobre as vértebras, o funcionamento da coluna e os tipos de deformidade: Escoliose, Cifose e Lordose.
Cifose Toracolombar
É uma das características ósseas da Acondroplasia. “Para o paciente acondroplásico, a cifose, ao invés de estar no segmento toráxico, fica mais baixa”, explica Dr. Nelson sobre o abaulamento nas costas que se forma geralmente em crianças, na fase em que começam a se sentar (conhecido como giba).
Foto de Divulgação
![Foto de Divulgação](https://somostodosgigantes.com.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-28-at-21.00.41-1024x576.jpeg)
Nestes casos, a ossificação é anormal, com menos condrócitos, formando ossos mais curtos que podem limitar os movimentos e alterar o alinhamento causando também deformidades.
Isso acontece por causa de atrasos no desenvolvimento motor, hipotonia (pouca rigidez muscular) e proporções diferentes de tronco, abdômen e cabeça. “Com o tronco e a cabeça maiores, há uma alteração do equilíbrio”, observa.
De acordo com o ortopedista, o ápice mais baixo da cifose, em geral, se resolve com correção natural ainda no primeiro ano de vida. É importante observar os sinais de alerta para casos onde a alteração da coluna pode se agravar:
- Pacientes com atraso no desenvolvimento motor têm quatro vezes mais chances de piora.
- Quando o ápice da curva está desalinhado, amassado, a tendência é piorar.
Nelson comenta estudos mais recentes assinados por Dr. Ain MC (2016), o ortopedista citado na abertura de sua palestra, nos quais é constatada uma possibilidade de cifose de 79%, dos quais mais de 52% apresentam curvatura mais acentuada do que 25 graus. Ainda nesta pesquisa, se observou que 60% dos pacientes acondroplásicos apresentam escoliose, mas destes apenas 6% têm uma curvatura mais grave com mais de 25 graus.
“Para compensar a cifose baixa é comum formar hiperlordose (curvatura acentuada na lombar no sentido oposto ao da cifose)”, diz o médico, completando sobre a alta rotatividade da pélvis e a característica do bumbum mais inclinado. “A partir dos 40 anos pode acarretar muitas dores lombares”, pontua.
Tratamentos
- Casos iniciais: nos primeiros anos de vida é indicada a reeducação postural. Como está associada à fase em que a criança senta, é importante não apressar esse movimento. Forçar a criança a se sentar é imprimir o peso do corpo todo em uma coluna ainda não preparada.
- Quando evolui: a cifose pode ser tratada com coletes, que podem evitar a cirurgia mas devem ser estritamente necessários pela aplicação totalmente desconfortável para pacientes ainda muito jovens (menos de quatro anos, com curva menos acentuada do que 25º). Entre 20 e 40º o indicado é acompanhamento periódico porque, caso progrida e não haja intervenção cirúrgica no momento ideal, isso pode ser um problema. Sempre atentar para dores nas pernas e problemas urinários.
Foto de Divulgação
![Foto de Divulgação](https://somostodosgigantes.com.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-28-at-21.00.40-1024x576.jpeg)
Quando a curvatura supera 40º ou quando há déficit neurológico: cirurgia. Dr. Nelson mostrou o exemplo de um caso acompanhado por ele na China em que o paciente adulto apresentava uma curva de 120º. O tratamento envolveu tração craniana, quando foi possível reduzir a deformidade em 20º, depois cirurgia mais invasiva, com uma correção final de 52º.
Foto de Divulgação
![Foto de Divulgação](https://somostodosgigantes.com.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-28-at-21.00.40-2-1024x576.jpeg)
Estenose do Canal Vertebral
Foto de Divulgação
![Foto de Divulgação](https://somostodosgigantes.com.br/wp-content/uploads/2018/11/WhatsApp-Image-2018-11-28-at-21.00.39-1024x576.jpeg)
Outra característica anatômica da coluna de quem tem Acondroplasia é o estreitamento do canal por onde passa o enervamento responsável pelos movimentos e sensibilidade, dentro das vértebras.
“A cifose também agrava essa situação. No acondroplásico, vértebras e pedículos são menores e mais grossos. Caso isso piore com o tempo, pode haver problemas”, conta o cirurgião.
Segundo ele, os sintomas da estenose do canal vertebral aparecem em cerca de 90% desses casos e tendem a se agravar entre a terceira e quarta década de vida do paciente. “Vinte e cinco por cento vão precisar de cirurgia para descompressão dos nervos”, avalia e compartilha uma lista de indicações cirúrgicas.
- Sintomas progressivos
- Retenção Urinária
- Muita dor para andar
- Sintomas Neurológicos durante o descanso
“A taxa de sucesso deste tipo de cirurgia é boa mas os sintomas podem voltar e há possibilidade de novas cirurgias. Cada vez que passa por uma operação deste tipo, a taxa de sucesso diminui”, explica e finaliza: “A chave é identificar o problema cedo para evitar cirurgias mais complexas”.
Assista agora à palestra completa de Dr. Nelson Astur Neto: