Ana Holanda e seu olhar afetivo

Editora da Revista Vida Simples fala com exclusividade para o portal Somos Todos Gigantes e debate temas como inclusão

Editora da Revista Vida Simples fala com exclusividade para o portal Somos Todos Gigantes e debate temas como inclusão, autoconhecimento e preconceito

Ela tem 20 anos de carreira e já transitou pelas principais redações do país. Editora chefe da Revista Vida Simples há seis anos, agora lançou um livro sobre culinária afetiva como resultado de um projeto que começou com uma página no Facebook há quatro anos. É embaixadora da The School of Life no Brasil, onde dá aulas, e assina a coluna Comida de Alma na Revista Máxima.

 

Foi na contramão do jornalismo que Ana encontrou sua essência. Buscando ser cada vez mais humana em seu estilo editorial, ela criou um estilo próprio de narrativa, que batizou de escrita afetiva, e por meio dela ensina pessoas em todo o Brasil a se comunicar contando histórias e fazendo conexões com o leitor.

 

Acompanhe agora a entrevista exclusiva dessa profissional que acredita que o mundo precisa de um olhar mais sensível. Não deixe de compartilhar e mostrar para os amigos que unidos nos tornamos um gigante invencível.

 

#STG – Falar sobre inclusão com pessoas que já estejam envolvidas com o assunto é mais fácil. Como você acha que podemos conscientizar a parcela da população que nunca parou para pensar nas dificuldades de quem tem nanismo, por exemplo?

 

Ana Holanda – Eu acho que o olhar da empatia, você olhar pelo olhar do outro, toca muito no sentido de fazer o outro se colocar naquela situação. Como fazer isso? Sou uma super defensora do contar histórias. Do contar sobre este olhar. Do falar sobre quem são estas pessoas e das dificuldades que às vezes não nos damos conta: que a estrutura que temos hoje pode excluir pessoas.

 

Foto: Rafaela Toledo

editora

Ana Holanda conversa com Somos Todos Gigantes em curso ministrado em São Paulo

 

O livro do Roman Krznaric – um pensador da vida, como eu costumo dizer – “O Poder da Empatia” traz muitos exemplos disso. Mostra inclusive como a própria indústria dos eletrodomésticos mudou graças a uma mulher que começou a questionar como poderíamos fazer eletrodomésticos mais interessantes e práticos para as pessoas mais velhas. Na época, a diretoria desta indústria respondeu que não poderia ficar pensando nas minorias para construir um eletrodoméstico, ou seja lá o que for… E ela achava que tudo tinha que ser inclusivo. Que você tinha que pensar em pessoas de uma maneira geral, ou seja, você não excluir ninguém.

 

Foto do Facebook de Ana

palestrando

Palestrando no Festival Path 2017

 

Quer dizer, por mais que estivessem fazendo um produto para todos… não era para todos. E ela passou por mais de um ano vivendo como um idoso, com todas as dificuldades físicas… O trabalho que ela desenvolveu foi a grande transformação, construiu por exemplo, geladeiras, que não tivessem a porta tão pesada. Ela usava uma lente que dificultava a visão, colocava um tampão nos ouvidos, para não ouvir direito, usava um tipo de sapato que dificultava o caminhar, usava um acessório que deixava ela mais corcunda. E ela fez isso! Este livro é incrível.

 

Créditos: Editora Zahar

livro

Sugestão de leitura de Ana Holanda

 

Eu acho que é isso: pensar que sempre estamos fazendo tudo para as pessoas e partir de um pressuposto que é o mesmo da ideologia da Apple. Você não constrói primeiro a forma e depois pensa como as pessoas vão usá-la… Você pensa nas pessoas e depois você chega no produto. Então eu acho que uma sociedade mais empática que é a defeso do Roman Krznaric. Ele acredita que a empatia pode nos salvar como pessoas, salvar nossas relações sociais, que é se colocar mais no lugar do outro.

 

O círculo de Ouro de Simon Sinek sugere uma força humana de pensar a vida

 

Fazer isso não é sequer aceitar o que o outro pensa, mas ao menos respeitar, entender. Muitas vezes é difícil o pensamento do outro. É diferente do seu, mas você tem que ouvir e entender porque a maneira como você pensa está muito conectada com tua história pessoal. Os seus valores estão ligados com o tipo de família que você teve, a educação, onde você nasceu…

 

Então falando em inclusão, eu acho que tem uma coisa que é muito forte hoje… que temos uma coisa de tentar abafar, sufocar nosso preconceito. E nós crescemos em ambientes preconceituosos em muitos sentidos. Preconceito com tudo que é diferente. Eu sempre falo: tenho que lembrar que sou uma pessoa preconceituosa porque, se não lembrar, não vou ter a impressão de quando estou sendo preconceituosa nem enxergar esse sentimento dentro de mim.

 

Ele nasce em mim de muitas maneiras. Nasce em mim pelos incômodos… Mas se eu achar que não sou preconceituosa, não vou perceber este incômodo brotando dentro de mim… Quando eu vejo, sei que está me incomodando porque é diferente. O diferente me incomodou.

 

Então vivemos num sistema de muita hipocrisia. Tentamos fingir que somos bonzinhos, camuflar nossos sentimentos… É impossível ser totalmente livre de preconceitos. Eu cresci nos anos 70, em uma sociedade incrivelmente preconceituosa. Não estou tentando justificar. Estou afirmando: sim, era preconceituosa como ainda é mas era muito mais. Tudo era errado… Gente que se tatuava era bandido. O que vou dizer do resto?

 

Temos que entender o quanto isso está incorporado em quem a gente é e olhar com muito mais afeto, compaixão e amorosidade. Porque acho que este é um caminho para a gente se relacionar muito melhor com o outro. Sem estereótipos.

 

#STG – Além da escrita afetiva, qual outro tema tem te inspirado?

 

Ana Holanda – Estou muito mergulhada na escrita afetiva (risos). Mas eu acho que é esta questão que eu te falei. Não é só a escrita afetiva. É muito mais sobre de onde nasce a escrita dentro da gente. Essa essência que a gente traz. Essa história que é nossa e que desvalorizamos.

 

Foto: Facebook Patrícia Spindler

Ministrando

Ministrando o curso de escrita afetuosa

 

Isso tem me chamado atenção. Eu acho que pode abrir muitas portas para trabalhos diversos. Principalmente porque para mim começa a virar uma rede de conexões muito grande porque eu passo a perceber que não está só ligada à escrita.

 

Foto: Facebook Luciane Coelho

livro

Livro de crônicas e receitas sobre culinária afetiva

 

Está ligada a outras vertentes. Você pode trabalhar este mesmo olhar no design, na arquitetura, na decoração… enfim… você pode trabalhar em campos diversos mas com este mesmo olhar que parece tão simples mas quando você começa a falar com as pessoas sobre ele, elas fazem uma cara de descoberta muito grande, sabe?!

 

#STG – Tem algum tipo de técnica que você usa em busca da sua essência?

 

Ana Holanda- Eu acho que precisa ter… Eu costumo dizer que às vezes toda esta percepção, este sentir se torna uma espécie de água parada dentro da gente que precisa encontrar seu caminho dentro da gente também. Ela precisa ser represada. Precisa sair deste poço onde às vezes a gente se coloca e se movimentar.

 

Eu não gostao nunca de falar que isso ou aquilo é melhor. Eu testei muitas coisas… Yoga, esportes de maneira geral, mas eu me encontrei muito na corrida, nos esportes de movimento. Porque, pessoalmente, eu acho que tenho uma tendência muito grande à melancolia.

 

Para mim, o mais interessante é quando a gente começa a ter essas percepções sobre a gente mesmo e isso vai levando também ao caminho deste fluxo interno. No meu caso, foi a corrida. Eu preciso de esporte de movimento. Preciso de esporte que me dê uma energia, exatamente para fazer esta água que tem dentro de mim encontrar seus caminhos e correr com fluidez.

 

Tem que trazer muita energia e a corrida faz isso por mim. Corrida ou andar de bicicleta de uma maneira intensa. Tem que ser algo intenso. Intensidade! Hoje, eu treino corrida três vezes por semana e faço pilates uma vez. O pilates me traz muito a questão da consciência corporal, mas eu acho que para cada um pode ser de um jeito.

 

Acho que tem quem encontre isso na dança, em lutas… A gente não pode querer voltar para um modelo impositivo. É respeitar quem cada um é de fato. Eu gosto muito de um livro de Haruki Murakami, escritor japonês autor de “Do que eu falo quando eu falo de corrida”. Ele escreve de um jeito muito pop. Corre e tem esta percepção. Escreveu este livro sobre corrida com um olhar muito semelhante à este meu… É preciso correr para ser mais criativo.

 

Foto: Blog Estante Virtual

livro

Referências de Ana Holanda

 

Eu preciso correr para não me deixar dominar pelos meus humores… Muitas vezes eu estou correndo e eu não só reduzo a ansiedade. Eu digo que às vezes eu estou começando um treino pensando em seis, sete prioridades, coisas para fazer quando eu terminar o meu treino e quando termino, penso: “nossa… o que eu tinha mesmo para fazer”??? (risos)

 

Eu já pratiquei meditação e acho que é uma prática que preciso voltar a fazer. É boa sempre! Para qualquer um! Mas a corrida me ajuda muito em me manter no agora. Eu nunca fico procurando as coisas, mas elas vêm. Às vezes, estou correndo e vem uma ideia. Eu digo que escrevo textos inteiros correndo. Eles vão vindo na minha cabeça. Às vezes uma ideia que não está chegando, uma linha de raciocínio que não está acontecendo…

 

É isto que eu digo… a água parada precisa encontrar seu caminho. A corrida me traz este movimento necessário.

 

 

Rafaela Toledo

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