Por que as opiniões se dividem? Primeiro porque a cirurgia pode ter razões estéticas ou terapêuticas. Alguns querem fazer para ganhar altura, reduzir os olhares de julgamento da sociedade, se sentir melhor com sua imagem física, alcançar com mais facilidade as coisas desenvolvidas para pessoas de média estatura. Outros acreditam que a intervenção só deve ser adotada mediante indicação médica, para corrigir e alinhar membros, melhorando a qualidade de vida, reduzindo dores na coluna e outra regiões do corpo.
Na Califórnia existe o Instituto de Alongamento de Membros (Limb Lengthening Institute of Los Angeles), no qual é oferecido tratamento cosmético de alongamento de membros. Pessoas querendo aumentar altura apenas por interesse estético, muitas vezes sem mesmo apresentar baixa estatura acentuada.
Já no Brasil, a Sociedade Brasileira de Ortopedia condena a prática, considerando este procedimento, quando feito por motivo cosmético, uma escolha discutível. Na China, em 2006 o governo aboliu o alongamento ósseo para fins estéticos porque muitos jovens recorriam à operação para conseguirem ocupar cargos que exigiam altura mínima.
Atualmente, no Rio de Janeiro, o Hospital Central da Polícia Militar em Botafogo realiza cirurgias deste gênero sob o gabarito do Dr. Rodrigo Motta, capitão da corporação e especialista no estudo e tratamento do nanismo. O médico esteve presente na segunda edição do Congresso de Nanismo, realizada na cidade do Rio de Janeiro (RJ), em outubro do ano passado. Na ocasião, ele falou sobre os novos tratamentos e tecnologias disponíveis para correções de deformidades e alongamentos ósseos. Veja o conteúdo sobre o Congresso de 2017 com a participação do médico:
Em São Paulo, o Hospital Israelita Albert Einstein conta com o talento do Dr. José Carlos Bongiovanni, uma referência no assunto e convidado de honra do 3º Congresso Nacional de Nanismo que vai acontecer entre os dias 09 e 11 de novembro, na cidade de Goiânia (GO). Dr. Bongiovanni foi responsável pelo alongamento realizado pelo nosso gigante Gabriel, representante do Somos Todos Gigantes no Youtube. Quer perguntar diretamente para ele mais sobre o assunto, basta clicar aqui e efetivar sua inscrição.
Segundo Dr. Bongiovanni, estas intervenções se propõem a reinserir indivíduos de baixa estatura, como os Acondroplásicos, com alturas de cerca de 1,20 e 1,30m, no contexto social, fazendo tudo que alguém de estatura média é capaz de fazer, como dirigir carros, ter acesso a caixas eletrônicos e tantas outras funções comuns desempenhadas por quem vive em comunidades. Não se trata apenas de uma mudança estética mas funcional.
É possível alcançar até 30 cm de alongamento (excepcionalmente mais, como os 43 cm obtidos por uma paciente do médico) por meio do método aplicado no Gabriel (denominado Illisarov, nome do médico russo que o idealizou). O procedimento é realizado com um tipo de fixador (externo) feito, no caso do Gabriel, de anéis de carbono e com todos os complementos em titânio.
Com Gabriel correu tudo conforme o planejado. O único contratempo foi a fíbula ter colado muito rápido, exigindo nova abertura para passagem do fixador. O ocorrido demonstrou capacidade especial para calcificação e reforçou as expectativas de crescimento ósseo, de pelo menos 10 cms para a primeira etapa.
Todas as metas foram atingidas durante o tratamento, e ao final, Gabriel conseguiu alcançar 12,5 cm de alongamento. Assista aqui as explicações do médico durante o procedimento:
De acordo com Dr. Bongiovanni, dos 15 mil ortopedistas brasileiros, poucos se dedicam à técnica, mas o resultado é gratificante para todos.
O Método
A técnica de alongamento ósseo foi desenvolvida há mais de 50 anos na Rússia e ainda hoje é capaz de aumentar a estatura de pessoas que nasceram com nanismo. O procedimento é conhecido como distração osteogênica. “Osteo” vem da palavra osso, em grego, e “gênese”, também do grego, significa geração. Ou seja, é a geração de osso por distração. Distração, neste caso, quer dizer afastamento.
Na cirurgia, o osso é cortado e fixado por pinos que afastam as duas partes do osso rompido, cerca de 1mm por dia. Este afastamento estimula o osso a produzir tecido ósseo tão resistente quanto o restante do membro entre as partes separadas.
Técnica de Illisarov
A vantagem deste método, utilizado por Dr. Bongiovanni, é que ele permite, através da implantação de um fixador modular, tanto correção de deformidades quanto alongamento ou reconstrução óssea, concomitantemente.
Dr. Bongiovanni se encantou pelas possibilidades muito além dos métodos convencionais. Era possível alongamento ósseo, correção de deformidades severas e até tratamento de osteomielite – infecções muito graves que normalmente deixam sequelas nos ossos. Por isso o médico foi um dos precursores do tratamento no Brasil.
Histórico da Técnica no Brasil
- Em 85, o Dr. Bongiovanni teve o primeiro contato com o método desenvolvido pelo professor russo Illisarov, que mais tarde viria a conhecer pessoalmente e aprender sua técnica in loco.
- Aconteceu durante um estágio realizado em Barcelona, e dois anos mais tarde esta interação na Europa inspirou a fundação da Sociedade ASAMI (Associação para o Estudo e Aplicação dos Métodos de Ilizarov), no Brasil, a qual Bongiovanni presidiu por 7 anos.
- Também presidiu a Sociedade Brasileira de Reconstrução Óssea, e durante sua gestão, em 1994, conseguiu classificar o método como uma subespecialidade dentro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.
- Em 1989 foi fundado o Grupo de Reconstrução e Alongamento Ósseo, responsável pela promoção do ensinamento sobre a técnica. Ele participou por 25 anos, mas se aposentou deixando colegas habilidosos no seu lugar.
- Atualmente o grupo é o único centro capaz de fornecer formação no assunto. As técnicas aprendidas em Barcelona, Itália e Rússia foram também aprimoradas no centro de estudo brasileiro que já formou pelo menos 300 profissionais de saúde do Brasil e fora, principalmente América Latina e Europa.
Dr. Bongiovanni reforça que em todo o Brasil há profissionais capacitados a realizar alongamento e reconstrução óssea. Vale a pena entrar em contato com a ASAMI para buscar os profissionais mais capacitados mas participar do painel do Dr. Bongiovanni no 3º Congresso de Nanismo também é imprescindível se você tem curiosidade ou necessidade deste tipo de intervenção.
Polêmicas
O fato é que o medo da dor – mencionada por muitos que passaram pelo procedimento – é uma unanimidade. Após a operação existe o risco de rejeição, o que dificulta quando se trata de mais de um membro operado. É preciso tratar um osso de cada vez, aumentando significativamente o tempo de tratamento, além de contar com uma equipe multidisciplinar capaz de acompanhar adequadamente qualquer complicação, inclusive emocional, durante o procedimento e seu complicado pós-operatório.
Outro fator polêmico é a idade ideal para a cirurgia, já que a fase mais apropriada para a regeneração óssea é a fase de crescimento. “Adolescência é uma fase difícil, então o melhor seria um alongamento prévio”, comenta Dr. Rodrigo Motta sobre o assunto durante o último Congresso de Nanismo.
O médico, que atualmente atua também na Calo – Alongamento Ósseo e Cirurgia do Pé, também no Rio de Janeiro, falou, já no ano passado, sobre novas técnicas de fixação debatidas durante o encontro prévio do Little People of America (LPA), como hastes desenvolvidas para Acondroplásicos, fixadores internos com espaçamento até por bluetooth e estratégias onde fixadores internos e externos são combinados para melhores resultados.
Uma resposta
Posso fazer essa cirurgia pra aumentar alguns centimetros por estética?