Espondiloepifisária congênita: 1 caso a cada 100 mil nascimentos

Com uma estimativa de um caso a cada 100 mil nascimentos, a displasia espondiloepifisária congênita é um tipo de nanismo caracterizado por troncos curtos, epífises anormais e corpos vertebrais achatados. As características que se manifestam logo no nascimento evoluem com o tempo e podem incluir miopia e degeneração da retina. A altura dos adultos varia geralmente entre 84 e 128 cm. No geral, a displasia parece ser causada por uma alteração genética autossômica dominante. Isso significa dizer que a chance de passar o gene para cada filho ou filha é de 50%.

Ellen Quadro, de 31 anos, é advogada e mãe da Manuela Cristina, de 1 ano e 4 meses. Na ultrassonografia de 35 semanas, veio a primeira surpresa. A médica percebeu que havia algo errado com o tamanho do fêmur, bem como a posição das pernas. Sem conseguir identificar a displasia, encaminhou a mãe para um parto de alto risco. “A médica não soube dar informações, disse apenas que era uma deformidade física. No mesmo dia fui para a emergência do hospital de indicação pelo SUS (Sistema Único de Saúde) que é o mais próximo da minha casa, na Ceilândia (DF)”, recorda.

Triste e sem entender de fato o que estava por vir, Ellen começou a pesquisar na internet e até então conta que acreditava só haver um tipo de nanismo: a acondroplasia. As características, entretanto, não eram similares às da filha. “Por fim encontrei fóruns de mães que passaram pela mesma situação e entrei em um grupo no WhatsApp. Foi acolhedor, esclarecedor. Eu costumo dizer que os pais e os adultos com nanismo fazem o que o SUS deveria fazer. E eu fui acolhida, tirei as minhas dúvidas, vi relatos, e cheguei à conclusão que precisava aguardar o nascimento pra ter um diagnóstico fechado”, acrescenta a mãe da Manuela.

A advogada diz que o diagnóstico chegou após um encaminhamento ao Hospital Sarah Kubitschek, popularmente conhecido como Rede Sarah. Antes disso, entretanto, já achava que outro pequeno gigante se parecia muito com a filha: Mateus, filho da Joselaine, a Josi. “A alteração desse colágeno pode causar várias doenças. Visão, coluna, deformidade óssea e tem uma progressão durante o crescimento. Antes do diagnóstico eu já suspeitava dessa displasia porque ela lembrava fisicamente o Mateus, filho da Josi. Então quando eu recebi o diagnóstico eu já conhecia a displasia e as suas comorbidades. Manu não teve alerta vermelho para nada até o momento, é saudável, tem imunidade boa, exceto por um problema respiratório que foi desaparecendo conforme ela foi crescendo. Engatinhou na idade esperada para um bebê sem nanismo e hoje anda com apoio”, completa.

Preocupações

Joselaine, de 33 anos, é vendedora e mãe do Mateus, de 3 anos de idade. A família mora em Morro Agudo, no interior de São Paulo, e conheceu outras famílias com o mesmo diagnóstico por meio do movimento Somos Todos Gigantes (STG), que acabou se transformando em Instituto Nacional de Nanismo (INN). O coração que acalmou Ellen, também já precisou de apoio. Josi, como é chamada, conta que descobriu sobre o nanismo com 36 semanas de gestação, mas o diagnóstico exato do filho só ocorreu quando ele tinha 1 ano e 10 meses.

Nas preocupações médicas com a pequena Manuela está a instabilidade da coluna cervical. A mãe conta que o problema é recorrente na displasia dela e por isso precisa de uma cirurgia já que resulta em problemas neurológicos. “Também é muito comum um desgaste no quadril na vida adulta e que pode causar dor já na infância. Manu também usa óculos e a visão é uma das maiores preocupações porque pode haver descolamento da retina”, acrescenta Ellen.

Atualmente, Mateus é acompanhado por ortopedista, otorrinolaringologista, oftalmologista, pneumologista, endocrinologista, geneticista, pediatra e neurologista. A mãe, Josi, conta que as reações pós procedimentos que precisam de sedação são bem difíceis para a família porque ele demora a normalizar a saturação. “Também tivemos momentos frustrantes com especialistas e agora em breve ele passará por uma cirurgia de mielopatia cervical para descompressão da medula. Tiram as vértebras c2 e c3, fazem um enxerto e deixam caminho livre pra medula. A notícia sobre essa cirurgia nos deixou sem chão”, finaliza.  

De pai para filhos

Monalisa Ned assim como o pai Nelson Ned e os irmãos, foi diagnosticada com a espondiloepifisária congênita. Ela conta que o pai foi diagnosticado com 1 ano de idade, logo que a família percebeu que ele crescia menos que a maioria das crianças. “Minha avó só percebeu que meu pai não crescia quando ele tinha 1 ano. O médico, de cara, deu esse diagnóstico. Nós fomos na adolescência para Baltimore, em Washington e depois do diagnóstico final sabíamos que teríamos muitos problemas de saúde e locomoção”, completa.

Ela e os irmãos começaram a fazer cirurgias aos 10, 11 anos. “Este tipo de nanismo dá deformidade óssea na epífise do osso e conforme vamos envelhecendo, aparece a artrose. Hoje eu tenho no quadril, pé, mãos e bastante dor.  Tenho medicamentos para dor e faço fortalecimento muscular. Uso muletas e se precisar me locomover por mais de 100 metros, vou de cadeira de rodas”, explica. Monalisa também tem perda auditiva considerada moderada e já teve descolamento de retina do olho esquerdo. Os irmãos não possuem nenhum destes problemas, mas o pai também perdeu a visão do olho direito quando era vivo.

Um dia por vez

“Quando a gente tem filho especial a gente aprende a ser menos ansiosa e viver um dia de cada vez. O que eu posso fazer para divulgar sobre Nanismo, para falar com as pessoas da minha comunidade que eu faço. E lutar contra o preconceito é o nosso maior objetivo, porque é exatamente isso que vai permitir que nossas crianças vivam com igualdade mesmo diante das dificuldades”, finaliza a mãe da Manuela.

 

Catherine Moraes

Jornalista por formação e apaixonada pelo poder da escrita. Do tipo que acredita que a informação pode mudar o mundo, pra melhor!
Comentários

Respostas de 3

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Veja Mais

Você sabia que o Senado aprovou um novo símbolo de acessibilidade? 

Uma cadeira de rodas apesar de representar uma parcela significativa das pessoas com deficiência, mas não representa a diversidade de PCDs que somos. No mês passado, o Senado aprovou o projeto que substitui o Símbolo Internacional de Acesso pelo Símbolo Internacional de Acessibilidade. Com isso,

Passe livre interestadual: como ter acesso? 

Você sabia que pessoas com nanismo podem ter acesso ao passe livre interestadual oferecido pelo Governo Federal? Para garantir o benefício, entretanto, é necessário ser uma pessoa com deficiência comprovadamente carente, com uma renda familiar de até um salário-mínimo por pessoa. Se você se encaixa

Você sabia que o Senado aprovou um novo símbolo de acessibilidade? 

Uma cadeira de rodas apesar de representar uma parcela significativa das pessoas com deficiência, mas não representa a diversidade de PCDs que somos. No mês passado, o Senado aprovou o projeto que substitui o Símbolo Internacional de Acesso pelo Símbolo Internacional de Acessibilidade. Com isso,

Passe livre interestadual: como ter acesso? 

Você sabia que pessoas com nanismo podem ter acesso ao passe livre interestadual oferecido pelo Governo Federal? Para garantir o benefício, entretanto, é necessário ser uma pessoa com deficiência comprovadamente carente, com uma renda familiar de até um salário-mínimo por pessoa. Se você se encaixa

Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.