O mundo acompanha em tempo real, seja pelos veículos de comunicação tradicional (como jornal, telejornais, revistas, etc), seja pelas redes sociais, o avanço da Covid-19, doença causada por um novo membro da família dos coronavírus, o SARS-CoV-2. Desde que foram detectados os primeiros casos de um tipo desconhecido de pneumonia, em Wuhan, província chinesa, no dia 8 de dezembro de 2019, até a quinta-feira, 19 de março, já haviam sido confirmados, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 200 mil casos em todo o mundo – com mais de 9 mil mortes. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, na mesma data haviam 621 casos confirmados, com 6 mortes, e mais de 11 mil suspeitos.
A contagem do número de infecções, porém, perde o sentido diante do crescimento exponencial e da impossibilidade de testagem em todas as pessoas. Segundo o infectologista Boaventura Braz de Queiroz, que trabalha no Hospital de Doenças Tropicais (HDT), centro de referência para a Covid-19 em Goiás, cerca de 30% das pessoas infectadas não apresentarão sintomas. Logicamente, elas não vão procurar os centros de saúde, “mas continuam transmitindo o vírus”, alerta.
Em três meses, muita coisa foi aprendida sobre a Covid-19. Uma delas é que os casos mais graves atingem idosos e pessoas com outras doenças, como hipertensão e diabetes, ou que tenham maus hábitos de vida, como os fumantes. Diante desse fato, as pessoas com nanismo precisam tomar cuidados redobrados. “As pessoas com nanismo, em muitos tipos, apresentam várias comorbidades. E, em relação ao aparelho respiratório, podem apresentar rinite, laringite, bronquite asmática e constrição torácica”, explica a pediatra Simone Ramos. “As pessoas com nanismo estão no grupo de risco para a Covid-19”, diz.
O problema, contudo, não se restringe aos meninos e meninas. “Tanto crianças quanto adultos portadores de nanismo, se tiverem comorbidades, como hipotonia muscular, alterações do sistema nervoso central ou cardiopatias, são do grupo de risco e devem ser rigorosamente afastados de qualquer possibilidade de contágio da Covid-19”, diz Simone Ramos.
Especialista em alongamento ósseo, o ortopedista José Carlos Bongiovanni explica que o risco aumentado não tem relação direta com o nanismo em si, mas com alguns tipos que estão relacionados a disfunções hormonais e metabólicas. No caso da acondroplasia, tipo mais comum de nanismo, ele afirma que o organismo compensa o fato de a caixa torácica ser um pouco menor com o aumento da frequência respiratória. “O acondroplásico não tem nenhuma imunodepressão. É um indivíduo normal e está afeito a contrair uma virose como qualquer outra pessoa”, diz Bongiovanni.
O pneumologista Ramiro Dourado lembra que as pessoas com nanismo têm de tomar os mesmos cuidados que outros pacientes com doenças crônicas, especialmente respiratórias. “Não existe correlação de um aumento de risco adicional aos pacientes com nanismo. As orientações devem ser de seguir estritamente o tratamento das doenças de base, evitar a todo o custo contato com pessoas, isolamento domiciliar severo, medidas de higienização gerais, especialmente a higiene das mãos”, afirma.
Dourado diz que, em caso de sintomas respiratórios como coriza, tosse e febre que cessa ao uso de analgésicos, deve-se evitar a ida às emergências. “É preferível falar com o médico assistente ou procurar a atenção básica”, afirma. Porém, no caso de falta de ar com esforço respiratório, tosse intensa, febre alta e persistente, é preciso procurar a emergência.
Para a prevenção, o pneumologista dá as dicas gerais: isolamento social; ficar em casa; não receber ou fazer visita; ao sair e chegar em casa, tirar toda a roupa, colocar para lavar e tomar banho. Primordial, segundo o especialista, é “ensinar às crianças sobre a importância da higienização das mãos”.
Morrys Kaisermann, autor do blog Treating Achondroplasia, reforçou em uma rede social que as pessoas com nanismo só têm risco aumentado para a Covid-19 caso tenham outras complicações clínicas relacionadas. “Há centenas de formas de nanismo. Boa parte apresenta tão somente distúrbio de crescimento, sem qualquer outro tipo de problema de saúde”, ressalta.
A Federação Brasileira das Associações de Doenças Raras (Febrararas), em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) elaborou um guia com perguntas e respostas para pessoas com doenças raras e seus cuidadores, a respeito da Covid-19 (Veja aqui).