Além das ricas palestras sobre saúde, a terceira edição do Congresso Nacional de Nanismo trouxe painéis em que outros aspectos da vida de quem tem nanismo foram abordados. A fonoaudióloga, irmã de Verônica (a Veca) e Júnior, conta sua experiência de vida como pequena no mercado de trabalho, por várias perspectivas.
Ela fala sobre como conviver com as diferenças no mercado de trabalho, se adaptar e levar a vida com leveza. Monalisa se apresentou no palco do anfiteatro do K Hotel no segundo dia de Congresso (10/11) e a irmã Veca revezou com Leo Gigante na noite de abertura do evento (09/11) e fechou os painéis do dia 10, falando sobre sexualidade sem tabus.
Acompanhe as publicações da semana sobre as palestras e não perca a fala imperdível da Veca e nadinha do 3º Congresso de Nanismo.
Leia o resumo do painel da Mona e não deixe de compartilhar para que nossa semente voe quanto mais longe possível. Trabalho não é privilégio, é direito de todos!
Palestra Monalisa Ned (10/10)
Foto de Divulgação
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Monalisa começou contando que além de um déficit de crescimento, tiveram um déficit materno mas explica que o pai sempre teve disposição e humor para ensiná-las sobre sua condição e como viver com ela.
“Meu pai foi um super pai. Além de nos mostrar todas as dificuldade com um super senso de humor, com leveza. Ele dizia que a gente é verticalmente prejudicado na altura pela natureza. Ele também falava que a gente era de Nederland, que tem até uma cidade que tem o mesmo nome, acho que na Holanda. Só que ele falava que era Nedlândia e que todo mundo lá era pequeno e que eu e minhas irmãs éramos princesas, meu irmão era príncipe”, relembra.
A fonoaudióloga conta um pouco sobre sua infância com os irmãos e o pai; e como foi para ela lidar com o preconceito, que era pior antigamente, além das questões familiares e emocionais.
Percurso profissional:
Apesar de ser fonoaudióloga especialista em distúrbios da comunicação humana e vertigem (Processamento Auditivo Central e Audiologia Tonal de Vocal), Monalisa não exerce. Escolheu trabalhar onde teve oportunidade para ajudar a cuidar do pai e se manter.
“Meu pai ficou doente e eu tive que ir para o mercado de trabalho porque meu pai não tinha plano de saúde. A gente gastou tudo o que a gente tinha para cuidar dele. E ele era nossa fonte de renda. Ele não preparou a gente para o mundo do trabalho. Para o mundo adulto, aquela coisa de bater ponto”, conta.
Ela foi telefonista bilingue, recepcionista, facilitadora de atendimento e assistente administrativa antes de chegar ao atual cargo no Hospital Sírio Libanês.
Dificuldades e Conquistas
Monalisa conta que não alcançar as coisas no trabalho (ponto, banheiro, elevador) foi o ponto de partida para ela se colocar dentro das suas necessidades e explicar suas limitações de altura e mobilidade.
“Tem também as barreiras atitudinais. As pessoas são muito sem educação e invasivas no mercado de trabalho. Perguntavam: você namora? É casada? como é sua relação com um homem alto? No começo, eu não tinha muito filtro. Então fui crescendo dentro deste meio e graças a Deus aprendi”, comenta lembrando que a terapia pode ser uma poderosa aliada para ajudar a resolver questões emocionais.
Facilidades
A palestrante, diagnosticada como a irmã com Displasia Espondilo Epifisária, explicou muito de sua trajetória por uma empresa que representa a responsabilidade social.
Ela fez um apanhado da série de benefícios que encontrou trabalhando no hospital, desde o fator humano caloroso e respeitoso, até as vantagens práticas como realizar os exames mais caros do mundo sem custos adicionais nem para seu plano de saúde.
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“Tudo o que eu aprendi além do meu trabalho, contou muito a paciência das pessoas e generosidade. Aprendi com meu pai que temos que ser gentis com todo mundo. Não é só agora que o lance da inclusão está na moda. É muito legal você preparar seu filho para o trabalho. Não só para a escola, mas para a sociedade também”, aconselha.
Perspectivas
Sobre política, Monalisa falou um pouco sobre a importância da política de cotas e da dificuldade de conseguir emprego antes das cotas, mesmo quando os cargos não eram afetados pela limitação física da baixa estatura.
“Eu já fiz entrevista que o cara me disse que não era para cota, era para pessoa normal… E eu: “Mas você não pode me ouvir? Ver meu currículo? Só sou pequena… Só tenho nanismo”! E eu fiquei impressionada porque era para ser telemarketing. Não tinha nada tipo uma deficiência auditiva que poderia impossibilitar o trabalho”, conta.
Mas ela também fala sobre a importância de aprender tudo o que o trabalho ensina. “A gente aprende quando entra no mercado de trabalho a ter responsabilidade, acordar cedo, bater ponto, ser subordinado, o que também é muito bom. Porque a gente com a deficiência, muitas vezes é muito rebelde, revoltado. E a vida não é bem assim. A gente depende do pão de cada dia. E lá é muito leve”, comenta sobre trabalhar em uma empresa socialmente responsável.
Para a palestrante, é importante as empresas investirem mais em inclusão e os pais prepararem seus filhos para o trabalho. “Ensine, seus filhos a serem amigos de todo mundo! Brincar e pedir a gentileza das pessoas. Porque nem tudo dá para fazer um mundo embaixo. Eu mesma, não tive casa adaptada. Tudo era escadinha, banquinho. E pedir ajuda mesmo para tirar este orgulho”, brinca.
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Outros fatores humanos determinantes foram tema do painel da fonoaudióloga sobre mercado de trabalho: autonomia e possibilidade de socialização. Ela mostra fotos com outros amigos pequenos que trabalham e pagam suas contas, suas diversões, vivendo seu dia-a-dia com normalidade.
“A Anaesp, associação de Nanismo de São Paulo tem o grupo das mini mulheres empoderadas. A gente sai juntas, uma dando apoio para a outra. Não tem esse lance de preconceito. Os caras paqueram a gente. Temos uma autoestima melhor quando estamos juntas porque a gente sabe onde é que dói”, exemplifica.
“A mensagem que eu quero passar é ser resiliente sempre. Viver. Todo mundo com um sorriso, sem amargura. Sair. Ser leve”, finalizou a profissional de saúde no 3º Congresso de Nanismo.
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Monalisa Ned já esteve em um Congresso de Nanismo, em sua primeira edição, no Rio de Janeiro. “Estou apaixonada. Eu gostei muito das palestras dos psicólogos e do Dr. Baratela, que eu nunca tinha visto, e depois descobri que somos amigos desde criança. Foi muito bom! A palestra da Veca também é muito legal porque as pessoas precisam muito falar sobre relacionamentos e ela fala de um jeito muito leve. Eu pude falar também então eu gostei muito”, comenta Mona em entrevista exclusiva à equipe do Somos Todos Gigantes.
“Sou apaixonada pelas crianças, desde o primeiro Congresso. Senti falta de algumas. E eu acho que tem que unir mais! A galera se separa muito. A gente já é pouco. Eu acho 10 mil poucos… Os surdos são, tipo 40 mil, e são muito unidos. Então eu acho que a galera tinha que se esforçar mais para estar junta”, finaliza puxando a orelha da turma, a filha do cantor com baixa estatura mais famoso da história da MPB.
Você pode assistir à palestra completa aqui: