Palestrante da semana: Michelle Sampaio

Ela nasceu para quebrar conceitos e transpor obstáculos. Fez daquilo que muitos achavam sua fraqueza, sua maior fibra. Quem disse que ela não cresceu? Ela explica tudo aqui, com exclusividade, e muito melhor que nós. Acompanhem também o canal Michelle Sampaio no Youtube e seu instagram @michellesampaiobb, onde você também pode contratar suas palestras.

Foto de Divulgação
Foto de Divulgação
Michelle à vontade, em uma de suas palestras.

“Sou casada há seis anos e meio, moro em Juazeiro do Norte, no estado do Ceará. Graduada em duas formações, funcionária concursada do Banco do Brasil S.A. e atualmente ocupo o cargo de Analista da Superintendência.

Apesar de minha família ser do Ceará, nasci em Nova Iguaçú no estado do Rio de Janeiro e mesmo antes de meus pais se casarem, meu pai já tinha emprego fixo lá no Sudeste.

Meus pais eram muito humildes e não tinham ideia do que eu tinha, muito menos os médicos (até hoje sem nenhuma noção do que seja DISPLASIA DIASTRÓFICA).

Tratamento? Nem pensar, pois a situação financeira dos meus pais era muito difícil. Fiquei nas mãos de Deus, para que ele me ajudasse a seguir minha vida.

Os médicos queriam fazer seis cirurgias em mim para que eu andasse com os pés no chão, mas não deram garantia alguma que eu andaria, então minha mãe preferiu que eu estudasse ao invés de passar anos de minha vida apostando em algo que poderia não dar certo.

Veio o nascimento da segunda filha da minha mãe, os médicos pedindo para ela abortar, porque nasceria igual a mim. Minha mãe negou sempre e sofreu muito também.

Minha irmã nasceu sem nenhuma anomalia genética.  Eu já com um ano e meio, voltamos para o Ceará porque a situação financeira no sudeste havia piorado.

Como só comecei a andar aos três anos e meio, minha irmã e eu começamos a estudar no mesmo ano e sempre na mesma sala, até o ensino médio. Podia faltar tudo na minha casa, menos o dinheiro pra pagar a nossa escola particular.

Na rotina escolar com minha irmã, ela sempre me ajudava no que eu precisasse: levar meus livros, minha mochila, etc. Depois que nos separamos, nunca faltou um anjo para me ajudar. Ao invés de eu querer estar no lugar de minha irmã que é vista pela sociedade como “normal”, na verdade, ela que sempre quis ser eu.

Minha mãe fazia de minha deficiência física um orgulho. Tipo: sou linda porque sou pequena, caio e não me machuco porque sou pequena e estou perto do chão, passo debaixo da mesa sem bater a cabeça na quina porque sou pequena, etc.

Nunca imaginei que eu não iria crescer, pensei que só iria demorar um pouco mais, mas um dia eu iria ser grande, e, na verdade, SOU!

Em toda minha vida ouvi frases como: você nunca irá namorar, você nunca irá casar, você nunca poderá fazer uma faculdade, você nunca poderá trabalhar com essas mãozinhas, você nunca conseguirá dirigir um carro, você nunca poderá ter filhos, você NUNCA, você NUNCA…

Quanto mais eu ouvia isso, mais eu tinha vontade de provar o contrário. E o básico pra mim era pouco, eu queria o impossível. Fiz uma faculdade que, de 40 alunos, só havia quatro mulheres, sendo uma delas, EU.

A faculdade era de Automação Industrial, em que se mexe só com máquinas pesadas, computadores, eletricidade, etc. Das quatro mulheres, fui a primeira a me formar. E de uma turma de 40, só se formaram uns 10, porque era muito puxado o curso.

Namorar? Depois da faculdade, nunca mais fiquei solteira (risos). Fui estagiária da Receita Federal, por obter uma das melhores notas na faculdade, considerada de cabra macho (risos).

No mesmo período da faculdade, passei no concurso do Banco do Brasil. Depois daí, o céu foi o limite para mim. Ajudei minha mãe a sair das dificuldades financeiras, comprei um carro e adivinha só: aprendi a dirigir (risos). Sou habilitada também.

Viajar? Viajei quase esse Brasil todo sozinha, deixando minha mãe de cabelos brancos, a pobrezinha… E quem foi que disse que eu não iria namorar NUNCA, faculdade NUNCA, trabalhar NUNCA, dirigir NUNCA, casar NUNCA e ter filho NUNCA? (risos)

Foto: Océlio Lima
Foto: Océlio Lima
Esposo de Michelle, Tiago Bezerra Moraes Sampaio, 28, Maria Clara, ainda no ventre e Michelle.

Conheci meu esposo trabalhando com ele no Banco do Brasil, e graças a Deus foi o maior presente Dele na minha vida. O melhor e mais lindo esposo do mundo. Depois que nos casamos, nunca mais cozinhei, pois ele me trata como uma princesa, não me deixa nem chegar perto do fogão para eu não me queimar.

Lindo mesmo é vê-lo pegar a cadeira de rodas quando chegamos ao shopping, só pra evitar de eu andar e me cansar.

Foto: Marcos
Foto: Marcos
Casamento teve 135 mil visualizações no Youtube

Terminei minha segunda faculdade (Administração de Empresas-UFC) já casada com meu esposo. Ele foi meu padrinho de formatura. Se alguém me perguntar hoje, se eu gostaria de ser grande, eu responderia: EU SOU GRANDE!

No Banco, quando assumi, foi muito engraçado, eles fizeram um milhão de adaptações. Passaram seis meses só preparando tudo para minha chegada e não serviu de nada (risos). Pedi pra tirar tudo. Deixar tudo normal como é pra qualquer pessoa e com o tempo fui pedindo algumas mudanças que considerava necessárias, como os trincos das portas foram trocados, as impressoras foram colocadas no chão…

Eu aprendi a me virar com o mundo do jeito que ele é, tudo alto. Nada na minha casa é adaptado, pois sempre achei que o mundo nunca iria se adaptar a mim. Procuro sempre um jeitinho de superar minhas limitações. É claro que cada um tem seu ponto de vista, e não estou dizendo que é errado fazer adaptações nas casas de pessoas com algum tipo de deficiência, mas esse é o meu modo de ser. Tem coisas que não tem como não adaptar, como por exemplo, meu carro e o de meu esposo, onde a adaptação é removível quando ele dirige.

Na minha cidade e por onde eu ando, não sofro nenhum tipo de preconceito. Pelo contrário. Sou muito respeitada e admirada por todos.

Devo tudo que sou aos meus pais, que nunca tiveram vergonha de mim, ou me trataram diferente do tratamento dos meus irmãos.  

Em março de 2017 fui selecionada para palestrar no Rio de Janeiro em um evento do Banco do Brasil chamado INSPIRABB. Havia mais de três mil pessoas. Depois dessa palestra descobri que estava grávida de dois meses. Foi uma surpresa , pois nunca evitei e nunca fiz nenhum tratamento.

Assista aqui.

No banco fui Assistente de Negócios de Pessoa Jurídica (PJ) por um ano, depois fui promovida para Gerente de Relacionamento PJ durante três anos e, há um mês, fui promovida à Analista da Superintendência.

Tive uma bebê dia 03 de novembro de 2017. Hoje ela está com quatro meses. A gestação foi acompanhada por uma obstetra especialista em casos de risco, mas como fui bem acompanhada, não houve complicações nenhum na gestação.

Foto de Divulgação
Foto de Divulgação
Nascimento de Maria Clara.

Não senti nem enjoo, nem dor nas costas… Nada. Trabalhei até o oitavo mês. Ela nasceu com oito meses (35 semanas). Foi programada para nascer com 35 semanas porque já não havia mais riscos de prematuridade porque tomei injeções para amadurecer os pulmões da bebê . E a obstetra tinha medo de não haver mais espaço da minha barriga, tendo em vista que Maria Clara não tem nanismo.

Foto: Estúdio Mai Farias Fotografia
Foto: Estúdio Mai Farias Fotografia
Foto em família.

Nunca  fizemos nenhum acompanhamento genético. Meu esposo não tem nanismo, tem estatura média. Maria Clara também nasceu com estatura normal.

Foto: Estúdio Mai Farias Fotografia
Foto: Estúdio Mai Farias Fotografia
Maria Clara nasceu sem nanismo ou qualquer outra alteração genética.

Depois do INSPIRABB venho fazendo outras grandes palestras. Dei uma em abril de 2017 em São Paulo para o ENLID, Encontro de Líderes do Banco do Brasil. Havia umas mil pessoas.

Dia 08 de março 2018, sábado passado, dei uma palestra para mil mulheres no MAIOR ENCONTRO DE MULHERES DO CARIRI, aqui no Ceará.

Também dei outras palestras pequenas em faculdades, workshops, formação de líderes … entre outras.

Esse ano Fui capa do maior jornal do Ceará, DIARIO DO NORDESTE”.

———————————————————————————————————————Michelle Parente Sampaio Bezerra, 36, tem 1,03 cm e Displasia Diastrófica. Mas isso para ela é um detalhe. Marque aqui, aquele(a) amigo(a) que precisa de incentivo para entender que a gente pode ser o que quiser. Vamos compartilhar a positividade e atitude de Michelle e contaminar todo mundo com nossa determinação.

Rafaela Toledo

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