Acessibilidade nas escolas ainda é desafio para estudantes com nanismo

Luiz Phillipe Araújo

Parte fundamental e marcante na vida de todos, o ambiente escolar vem se remodelando ao longo do tempo para conseguir reunir toda a pluralidade de corpos. Para os estudantes com nanismo, mesmo as estruturas consideradas acessíveis demandam pequenas adaptações para tornar locais seguros e confortáveis à rotina de estudos. 

Os números sobre acessibilidade nos ambientes escolares das cidades brasileiras mostram que houve melhora substancial nos últimos cinco anos. Um salto foi observado após a aprovação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), em 2016, que determina que é dever do Estado, da família, da comunidade escolar e da sociedade assegurar educação de qualidade à pessoa com deficiência.

No acompanhamento feito pelo Censo Escolar, publicado anualmente pelo Ministério da Educação (MEC), de 183 mil escolas existentes em 2016, apenas 51 mil tinham dependências consideradas acessíveis. Em 2020 o número saltou para mais de 108 mil, representando 60% das 180 mil escolas. Crianças e jovens com nanismo, entretanto, precisam de adaptações exclusivas.  

Emanuel

A prática tem mostrado que, mesmo nas escolas consideradas acessíveis, os pais precisam acompanhar outras necessidades de adaptações de acordo com as demandas particulares dos filhos. Foi o caso da dona de casa Jucilene de Miranda, de 36 anos, moradora de Brasília. Ela é mãe do Emanuel de Miranda, de 8 anos, que tem acondroplasia, um dos tipos mais comuns de nanismo e estuda no Centro de Ensino Fundamental Bonsucesso, no Núcleo Rural Planaltina. 

Conseguir a vaga para Emanuel foi tarefa tranquila, conta Jucilene. Antes de sua entrada, a escola adaptou pias e sanitários. Já frequentando as aulas, porém, surgiu uma nova necessidade de adaptação.  Por conta do longo tempo sentado sem que as pernas encostem no chão, a escola terá de fazer uma adaptação na cadeira da sala de aula. 

“A adaptação da carteira até umas semanas atrás ainda não estava concluída, porque as aulas foram suspensas por conta da Covid-19”, informa a mãe do Emanuel. Na espera pela adaptação que deve trazer mais conforto, Jucilene destaca que ela e o filho aprovam a escola. “Ele gosta muito da escola, é participativo”, acrescenta. 

Bernardo

A necessidade de adaptações adicionais também precisou ser apresentada na escola do Bernardo, de 6 anos, que mora em Brasília e também tem acondroplasia. O pai,  Eduardo Lima, de 41 anos, conta que a escolha pelo Centro Educacional Leonardo da Vinci foi feita após uma visita da família. Mesmo com uma boa avaliação da estrutura, os bebedouros precisaram ser rebaixados porque tinham sido montados de forma errada. “Na verdade já era para estar na altura dele”, destaca Eduardo.

Além dos bebedouros, a escola disponibilizou uma cadeira com assento regulável nas costas e com apoio dos pés e uma banqueta para que ele possa lavar as mãos. “A escola deu todo o apoio que precisamos até hoje. Estamos muito felizes e ele também se sente acolhido. Os coleguinhas o receberam muito bem e o tratam muito bem também”, relata Eduardo. 

“Sempre é possível”

A fisioterapeuta Mônica Gurgel, que trabalha na Escola Helena de Castro, que fica na cidade de São Paulo, tem experiência no acompanhamento de um estudante com nanismo, o Lucas que um tipo de nanismo muito raro denominado Displasia Acromícrica, com aproximadamente 60 casos no mundo. Ela defende que sempre é possível criar possibilidades de adaptações que atendam às diferentes necessidades.

“Eu acredito que trabalhos de consultoria de grupos com olhares distintos são primordiais neste processo de desenvolver um ambiente adaptado, seguro e principalmente inclusivo, para que o aluno sinta-se parte integral de todos os processos”, explica a fisioterapeuta. 

Lucas afirma que as adaptações já existem há um tempo e que se sente melhor com isso. “Eu tenho acessibilidade pra tudo”. E quando ele precisa, diz que reivindica. O significado de justiça é aprendido em casa: ter o direito de fazer o que todo mundo da idade faz. E se não é possível, é preciso conversar para tornar viável. Questionado sobre a cadeira adaptada, se é melhor agora, a resposta é bem clara: “Óbvio que do jeito que está. Do outro jeito eu não alcançava”.

Mônica chama atenção para os riscos de uma má adaptação. “Podem trazer problemas posturais, no desenvolvimento físico e, como consequência, interferirem no desenvolvimento de aprendizagem e até emocional”, sublinha a fisioterapeuta. Para reduzir os riscos de adaptações insuficientes ou mal feitas, Mônica diz que, além do acompanhamento com profissionais da saúde, escutar a criança é fundamental. “Fica mais fácil quando podemos escutá-los e entender as necessidade e dificuldades de cada um”, finaliza Mônica.

Luiz Phillipe Araújo

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