Nanismo caracterizou mito do “pigmeu”

Quando pensamos em “pigmeu”, logo nos vem à mente pequenos homens que vivem nas florestas. Essa imagem, presente em filmes e desenhos animados e que foi construída a partir do neocolonialismo no continente Africano, revela a mentalidade que os próprios exploradores tinham ao entrarem em contato com as culturas do continente.

Baseados na noção de darwinismo social, os exploradores europeus de fins do século XIX situavam as sociedades da floresta centro-africana no nível mais abaixo de uma suposta escala evolutiva, frequentemente considerando-as como não humanas e usando essas afirmações como justificativa para a exploração.

Foto: Aventuras na História/ Uol
Foto: Aventuras na História/ Uol

Mas a ideia de “pigmeu” é anterior às ideologias do século XIX, estando presentes em relatos da Antiguidade e Idade Média. Para os egípcios, o nanismo era uma condição que trazia sorte e prosperidade, por estar associada aos deuses de baixa estatura Ptah e Bes. As primeiras representações conhecidas de pessoas com nanismo entre os egípcios são figuras de marfim encontradas ao longo do Médio Rio Nilo e datadas de 3000 a.C., e em textos em que reis egípcios eram caracterizados como anões performando danças sagradas em frente ao deus sol Rá.

Imagem: Aventuras da História/ Uol
Imagem: Aventuras da História/ Uol

O culto aos deuses Ptah e Bes se espalhou pelo Mediterrâneo no primeiro milênio antes de Cristo, provavelmente levando à criação de lendas gregas sobre seres em miniatura: textos do período greco-romano tardio indicam que eles eram usados como símbolos para caracterizar os deuses.

Durante a Idade Média, o termo Pigmeu foi usado para caracterizar o elo entre humanos e animais. Lendas eram difundidas acerca de viajantes que se encontravam com seres pequenos em suas aventuras. Essas histórias geraram repercussões em livros e iconografias, repertórios aos quais os viajantes dos séculos XVIII e XIX tinham acesso.

Foto: Aventuras na História/ Uol
Foto: Aventuras na História/ Uol

Apenas no contexto do neocolonialismo é que o termo foi associado aos povos indígenas das florestas tropicais africanas, de forma pejorativa e estabelecendo conexões entre estes povos (os pigmeus) e os macacos. Eles seriam novamente classificados como um elo perdido entre homem e animal, em estudos que mesclavam evolucionismo biológico e teorias raciais e debatiam o lugar do ser humano na natureza. Desta forma justificava-se a escravidão e destruição dos modos de vida desses povos da floresta.

Hoje em dia, podemos compreender quem são os povos considerados “pigmeus” pelos exploradores: grupos que apresentam línguas e tradições de caça diversas, como o Twa, Aka, Baka e Mbuti, e que vivem hoje em países como República Centro-Africana, Ruanda, Uganda e Camarões.

As maiores características comuns entre estes povos são a baixa estatura e o uso da floresta como fonte de remédios, subsistência e identidade cultural, e até hoje esses povos vêm resistindo no continente Africano à constante exploração por parte de outras culturas.

por JOSEANE PEREIRA de Aventuras na História da Uol

Rafaela Toledo

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