Otorrinolaringologista Melissa Avelino no 3º Congresso de Nanismo

Melissa Avelino é médica de Gabriel, nosso Youtuber, e fellow em Otorrino Pediatria pela Universidade Federal de São Paulo. Pela primeira vez no Congresso Nacional de Nanismo, ela falou sobre um tema muito relevante para qualquer criança (ou adulto) que tenha alterações craniofaciais, uma das principais características da Acondroplasia.

Melissa é membro do Corpo Editorial da Revista Otorrinolaringologia (Brazilian Journal of Otorhinolaryngology) e também preside a Academia Brasileira de Otorrinopediatria (ABOPe). Atualmente atua como professora adjunta da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da PUC-GO (Pontifícia Universidade Católica de Goiás); e comanda a unidade de cabeça e pescoço do Hospital da Clínicas da UFG.

Leia agora um resumo rápido do que foi sua palestra e não se esqueça de assistir o painel completo no link ao final da matéria.

Palestra Melissa Avelino (10/11)

Foto: Matheus Alves/Fasam
Foto: Matheus Alves/Fasam
Plateia concentrada no segundo dia de palestras.

Qualquer estatura abaixo de 20% da média, conforme sabemos, é nanismo. Mas quando se trata de um nanismo proporcional, a incidência de apneia do sono é semelhante à da população em geral.

De acordo com Melissa, em Acondroplasia, há manifestações clínicas muito fortes na área de otorrinolaringologia. Entre as principais manifestações deste tipo de Nanismo, constam apneia do sono, doenças de orelha média, dores nos membros e obesidade.

“Dos sintomas mais frequentes temos uma série de três dentro da Otorrinolaringologia que podem contribuir para a apneia do sono”, observa.

A médica explica que apneia é uma sensação temporária do fluxo de oxigênio. “É como se fosse uma pequena pausa respiratória. É muito preocupante porque a apneia pode trazer repercussões muito graves e, infelizmente, pode passar despercebida”, conta.

Na posição para dormir, se houver alguma obstrução em qualquer nível, a parada do fluxo do ar, configura apneia. Melissa explica que na infância é muito preocupante mas no adulto também porque pode causar problemas cardiopulmonares, infarto e uma série de consequências, como atrapalhar a produtividade, o sono, e consequentemente atrapalhar o desempenho das atividades rotineira.

Foto: Matheus Alves/Fasam
Foto: Matheus Alves/Fasam
Apneia do sono pode ser letal! Observe os sintomas.

“Porquê na criança preocupa ainda mais? Porque a criança está em fase de desenvolvimento, então temos muito bem estabelecido que crianças que desenvolvem apneia do sono tem déficit de atenção, não tem o mesmo rendimento, o mesmo aprendizado, tem a questão da liberação do hormônio de crescimento. Numa criança, independente da displasia, a apneia é muito importante porque pode trazer consequências irreversíveis”, avisa.

Segundo Melissa, até algumas alterações comportamentais podem ser originadas na falta de qualidade de vida, resultado de uma rotina de sonos comprometida. “Às vezes fica mais irritada, mais agressiva. Às vezes apresenta hiperatividade”, pontua.

Além disso, por trás da apneia há questões fisiológicas como sobrecarga para o coração e pulmão; e falta de oxigenação no cérebro.

Principais causas da Apneia na Infância

  • Hipertrofia de adenoide de amigdalas,
  • Obstrução nasal severa (em adultos ou crianças mais velhas geralmente pode ser hipertrofia da concha)
  • Obesidade
  • Má formação craniofacial
Foto: Matheus Alves/Fasam
Foto: Matheus Alves/Fasam
O público esteve atento durante toda a palestra.

Como a Acondroplasia é caracterizada por alterações craniofaciais, com possibilidade de hipertrofia adenamigdaliana e a criança com a condição tem mais chance de obesidade, este grupo merece atenção especial quanto à apneia do sono. “Se pegarmos entre as causas de apneia, três dos principais sintomas, estão presentes na acondroplasia”, observa.

“Toda criança com alteração craniofacial tem risco maior de apneia do sono por isso abordamos de forma diferente. A tendência do acondroplásico é ter displasia do terço médio da face então o espaço respiratório já está reduzido. Uma adenoide numa criança acondro, causa muito mais efeito e consequência do que em uma que não tem essa alteração”, diz a médica.

A criança com acondroplasia também tem mais otite, segundo ela. Porque a tuba auditiva predispõe o acúmulo de líquido no ouvido médio. Isso pode resultar em perda auditiva, condutiva, transitória, mas que também pode atrasar o desenvolvimento e retardar a fala da criança, por exemplo.

Predisposição

  • Adenóide: é um tecido que cresce, característico da criança, tem pico de crescimento entre 2 e 5 anos de idade, mas pode acontecer mais precocemente. “Criança com alteração craniofacial, na minha experiência, às vezes, temos que intervir mais precocemente, porque já tem espaço menor então precisa de pouco tecido para ter uma grande repercussão”.
  • Sobrepeso: cada dia com uma incidência maior, em acondroplásicos ainda é mais preocupante por uma questão lógica de proporção.

Exames Essenciais:

  • Nasofribroscopia: permite avaliar desde a entrada da nariz, se há pontos de obstrução, até a nível de pregas vocais.
  • Polissonografia (Obrigatório): para toda criança com má formação craniofacial, é obrigatório. Segundo a médica, por meio deste exame é possível mensurar a gravidade da situação. Este procedimento é simples, não existe faixa etária ideal e provavelmente deve ser repetido em diferentes momentos da vida do Acondroplásico. Também permite verificação da saturação do oxigênio (até 92% é considerado normal), dando parâmetros para os especialistas traçarem estratégias para tratar as graves complicações que podem ocorrer por este motivo.

Em pacientes deste tipo, os distúrbios do sono tem incidência altíssima e não podem passar despercebidos.

Foto: Matheus Alves/Fasam
Foto: Matheus Alves/Fasam
Para finalizar, ela diz que é possível fazer alongamento da face, como dos membros.

“Adenoamidaglictomia é um caminho mas, às vezes, a gente vai precisar de algo mais”, afirma a otorrinolaringologista sobre a necessidade de repetir o exame após a cirurgia e acompanhar o desenvolvimento dos tratamentos escolhidos. “Toda criança que tem apneia tem complicações mais significativas na cirurgia mas são controláveis. Como profissional posso intervir já que já sei dos riscos aumentados deste paciente. Por exemplo, em muitos casos, logo no primeiro momento do pós operatório é necessário o CPAP”, fala sobre o dispositivo respiratório usado para ajudar as crianças a respirarem após o procedimento cirúrgico.

Melissa adianta ainda que da mesma forma que fazemos expansão de membros, podemos fazer expansão da face, tratando com equipe multifuncional a parte de ortopedia, ortodontia e otorrinolaringologia.

Assista à palestra completa aqui e não de esqueça de compartilhar. Apneia do sono é uma complicação comum em Acondroplasia e pode ser muito grave em crianças, chegando até à ser letal. A orientação da especialista para os pais de filhos com nanismo, é sempre observar qualquer ruído durante o sono e mudanças comportamentais porque irritabilidade é sintoma clássico de quem não tem qualidade de sono.

Rafaela Toledo

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