Exclusivo: Juliana Caldas fala sobre Estela

Desde que soubemos da participação de uma atriz com nanismo na trama de uma novela das nove na Rede Globo, o assunto tomou todas as rodas sociais que envolvem o assunto da baixa estatura. A expectativa foi imensa e a responsabilidade recaída sobre a atriz foi inevitável. Todo mundo queria saber como o nanismo seria debatido e qual seria a voz dada à personagem por Juliana Caldas.

Ficamos realmente entusiasmados e gratos com a possibilidade de ver o assunto ser levado ao debate popular via maior emissora de televisão do país, campeã de audiência, e pelas mãos hábeis do adorado Walcyr Carrasco. Entretanto, o desenrolar do enredo em torno da personagem Estela tem gerado polêmica entre o público com Nanismo.

Foto: Instagram Juliana Caldas
Foto: Instagram Juliana Caldas
Juliana e Walcyr Carrasco comemorando o ano de 2018.

Afim de dar voz ao debate entramos em contato com a assessoria de imprensa de Juliana Caldas e conseguimos toda atenção e exclusividade em uma entrevista imperdível. Confira aqui o que a atriz tem a dizer sobre a personagem Estela e o desenrolar da trama de O Outro Lado do Paraíso:

Foto: Pino Gomes
Foto: Pino Gomes
Juliana, plena, em entrevista na revista Vogue Brasil.

STG – Como foi estrear como atriz em uma novela da Globo?

Juliana Caldas – Foi maravilhoso. Primeiramente, pela questão da representatividade. Finalmente temos um pequeno no horário nobre, com um papel de destaque, abordando a questão do nanismo de uma forma séria, não caricata. E, claro, pela oportunidade de mostrar meu trabalho como atriz, independente do nanismo. Além de tudo, tive o privilégio incrível de estrear na TV junto a ídolos como Marieta Severo, Lima Duarte, Fernanda Montenegro e tantos outros. Cada vez que contraceno com eles, acho inacreditável que isso esteja realmente acontecendo.

STG – Qual a sua opinião sobre a personagem, sua personalidade e a trama que a envolve?

Juliana Caldas – A Estela foi a única que manteve a sanidade na família, talvez por ter vivido afastada deles por tanto tempo e não ter sofrido uma influência tão direta. Ela se manteve meiga, compreensiva e carinhosa, apesar das agressões e do desdém da Sophia, mas claro que esse tratamento teve um impacto na autoestima dela. Está sempre duvidando de si mesma, da sua capacidade, dos seus atrativos. Acho que a trama funciona como um caminho para que ela se encontre e se recupere de todos esses anos de depreciação e consiga se valorizar, independente da opinião alheia.

STG – Entre o público com Nanismo, Estela tem dividido opiniões. Você acha que ela retrata as questões mais relevantes vividas por pessoas de baixa estatura?

Juliana Caldas – A Estela é retratada, primeiramente, como um ser humano, uma mulher. A primeira fase abordou o nanismo muito intensamente, a intenção era apresentar a nossa realidade ao telespectador, mas a personagem foi se transformando e evoluindo com a trama, que agora está voltada para as questões psicológicas. Além das dificuldades óbvias, como a acessibilidade, temos que falar também das consequências emocionais da discriminação em todos os tipos de ambiente. Esses danos normalmente são minimizados pela sociedade, mas são decisivos na maneira como cada um lida com a deficiência. Eu fui criada num ambiente de muito amor e apoio, esse já não é o caso da Estela. Agora ela está se vendo afastada da família tóxica, se conhecendo e construindo as próprias relações com pessoas que não a enxergam a partir do nanismo. É um momento de recuperação para ela e acho necessário mostrá-lo. A auto aceitação é o primeiro passo para que a gente consiga lidar com o preconceito do mundo.

Foto: Pino Gomes
Foto: Pino Gomes
Juliana em entrevista à revista Marie Claire

STG – Você acha que as questões de acessibilidade em espaços públicos ainda serão debatidas na novela?

Juliana Caldas – Acho que no começo, quando a personagem estava sendo apresentada, o objetivo era dar um choque no telespectador, mostrando os problemas de acessibilidade de forma explícita, somados à forma desumana como a mãe tratava a Estela. Foi o momento de fazer o público pensar sobre as condições em que vivemos e os obstáculos práticos que as pessoas com nanismo enfrentam. Agora, a Estela já está em outro momento, voltado para o psicológico. Ela quer se entender como mulher, longe do ambiente opressor que é a casa da família. Está criando um convívio social e interesses amorosos. Aos poucos ela vai se recuperando dos danos que o preconceito causou nela. Os problemas da acessibilidade agora já estão inseridos no contexto da vida dela. Após o primeiro impacto, agora a Estela está na fase de ser mostrada como uma pessoa, uma mulher, que é um dos principais objetivos de nós, pequenos: sermos vistos pelo que somos e pelas nossas habilidades, sem sermos associados ao nanismo o tempo todo.

STG – E do ponto de vista profissional? Acha que a personagem pode dar uma guinada neste aspecto?

Juliana Caldas – Acharia interessante a Estela ganhar um rumo profissional, algo que a afirmasse ainda mais como indivíduo e valorizasse as capacidades dela, mas isso fica por conta do autor. O Walcyr tem sido muito delicado em toda a abordagem e no texto da personagem, já adicionou muitas camadas à Estela. No momento, ela já está com a cabeça bem ocupada, tentando administrar sua nova vida social e o interesse de dois homens maravilhosos (risos). Para alguém que era completamente retraída, já é uma grande evolução. Vamos ver o que virá pela frente. Tudo é possível.

Foto: @NovelaDas9
Foto: @NovelaDas9
Amaro e Estela: “Tudo pode acontecer”.

STG – Conta para a gente como foi contracenar com a maravilhosa Fernanda Montenegro?

Juliana Caldas – Ai, eu não tenho palavras para expressar (risos). Recentemente tivemos uma cena longa juntas e precisei de um tempo para me acalmar, porque estava muito ansiosa. Quem não ficaria? E além de todo o talento e experiência, ela é muito generosa, conversa comigo e tenta me fazer acreditar que estar ali em cena com ela é a coisa mais natural do mundo. Claro que fico ainda mais emocionada de ouvir palavras assim vindas dela (risos). Mas depois de um tempinho, eu encarno a Estela e mergulhamos no enredo. O aprendizado está sendo indescritível.

Foto: Instagram Juliana Caldas
Foto: Instagram Juliana Caldas
Contracenando com Fernanda Montenegro, Juliana emocionou todo mundo.

STG – Como é viver o preconceito na TV? Notou diferença nos olhares das pessoas pelas ruas?

Juliana Caldas – Noto mais respeito no tratamento das pessoas. Antes era apontada como “a anã”. Agora sempre se aproximam me chamando de Juliana ou Estela, sempre com muito carinho e elogios ao meu trabalho. Isso é muito gostoso mas a mudança mais significativa será quando os direitos de todos os pequenos forem plenamente respeitados. Claro que fico feliz pelo reconhecimento mas não quero ser respeitada apenas por estar em evidência. Todos na minha condição têm o mesmo direito.

STG – Você opina sobre o desenrolar da personagem na trama? Caso sim, pode dar exemplo de alguma contribuição sua?

Juliana Caldas – Nós trocamos muito. No começo da trama, os diretores e a equipe me consultaram sobre a abordagem e o texto, mas estava tudo muito bem alinhado e continua assim. Há muita pesquisa e responsabilidade na elaboração da personagem e da história. Tudo foi muito bem pensado e ninguém dá um passo sem conhecimento de causa.


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A equipe do Somos Todos Gigantes tentou entrevista com o autor da novela, Walcyr Carrasco, mas não obteve resposta de sua assessoria até o momento do fechamento desta edição.

 

Rafaela Toledo

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