Paternidade: combustível potente de transformação

Conheça histórias de homens que tiveram suas vidas ressignificadas com a chegada dos filhos e que encontraram no INN acolhimento e apoio para seguir lutando por qualidade de vida 

Quando é que você mudou a sua forma de enxergar o mundo? O nascimento dos filhos é um divisor de águas na vida de muitos homens e neste Dia dos Pais reunimos três histórias emocionantes sobre como a paternidade é um combustível potente de transformação. 

O ator, cantor e compositor Rodrigo Vellozo descobriu que seria pai no auge da pandemia, na fase de isolamento social. “Tínhamos acabado de vivenciar uma tragédia familiar e estávamos num processo muito intenso e profundo de luto quando descobrimos que seríamos pais da Aurora. O nome dela surgiu num sonho muito bonito que tive e realmente simbolizou a chegada de um novo momento solar e muito feliz”, conta Rodrigo que dois anos depois recebeu a notícia que seria pai em dobro. “Numa surpresa muito grande, descobrimos que seríamos pais da Olivia. O nome dela veio também de forma completamente intuitiva”. 

Carolina, Rodrigo, Aurora e Olivia (Foto: arquivo pessoal)

Foi na ultrassom de 37 semanas, pouco antes do parto, que o diagnóstico da Olívia chegou, deixando Rodrigo perdido. “Percebi um despreparo e desinformação de boa parte dos profissionais da área da saúde que estavam nos acompanhando. Ficamos em choque e muito assustados e hoje acredito que uma das maiores causas desses sentimentos foi também a falta de acolhimento e de informação. Nas semanas que antecederam o parto tentei buscar o máximo de artigos acadêmicos que pude e geneticistas e profissionais mais especializados”, diz. 

“Desejo muitas felicidades a todos os papais. E muita força para os papai atípicos como eu. Que possamos compartilhar nossas experiências e construir um lugar mais inclusivo e amoroso para nossas filhas e filhos”, Rodrigo Vellozo 

Olívia nasceu saudável. Na maternidade, Rodrigo e a esposa vivenciaram situações de preconceito. “Eu vi alguns profissionais de saúde utilizando termos depreciativos e rindo de forma debochada. Aquilo me partiu ao meio. Com poucas horas de vida, Olívia foi submetida a um exame de raio-x e eu ouvi comentários pavorosos, ofensivos e terríveis. Foi uma experiência de contato com um lado da paternidade que eu desconhecia por completo e que chegou de maneira avassaladora junto com a felicidade de ser pai pela segunda vez”, relembra Rodrigo. Olivia foi diagnosticada com acondroplasia e foi o primeiro caso na família. 

Com três meses de vida, Olívia passou por um procedimento cirúrgico. “Foi tudo muito rápido, intenso e assustador, além de muito caro. Estamos ainda sofrendo com o impacto financeiro, pois nem tudo foi coberto pelo plano de saúde. Eu mesmo fiquei com a coluna travada, faringite e crises de ansiedade naquelas semanas”, complementa Rodrigo que, ao buscar mais informações sobre a condição da filha, encontrou o Instituto Nacional de Nanismo (INN). “Ver o depoimento de pais em situações similares e, sobretudo, a caminhada de outras crianças e jovens que passaram pelo que estamos vivenciando, foi provavelmente a grande virada. Essas outras histórias nos mostraram que não estamos sozinhos, embora sejamos raros, e nos enchem de esperança. O Instituto me proporcionou um tipo de acolhimento e carinho que não encontrei em nenhum outro lugar”. 

Aurora e Olívia são a melhor parte da vida de Rodrigo. “Elas me ensinam todos os dias. Até no caos, elas mostram a delicadeza de serem crianças e a fortaleza que é a família”. 

Rodrigo é filho do cantor e compositor Benito di Paula, um grande parceiro na caminhada da música e da vida. “Moramos juntos e trabalhamos juntos desde de sempre e é um orgulho e um privilégio para mim. Nesses momentos de angústia, estar com a família unida é de uma importância absurda”.

Vida ressignificada 

O advogado Michel Capelari passou por um câncer logo após se casar e acreditou que a doença poderia o impedir de realizar o grande sonho: o de se tornar pai. Mas ele venceu o câncer e quando já estava perdendo as esperanças, tudo mudou. “Dois anos depois do meu tratamento, veio a notícia da gravidez da minha primeira filha. Demos o nome de Rode, que significa rosa e também é um nome bíblico. Dois anos depois, recebemos a notícia da gestação do nosso segundo filho: o Boaz”. 

Dóris, Rode e Michel (Foto: arquivo pessoal)

No segundo ecocardiograma fetal, Boaz foi diagnosticado aos 3 meses de gestação com osteogênese imperfeita grau 2, um tipo de nanismo incompatível com a vida. “Ali começava nossa jornada para entender o que era e nos preparar para recebê-lo. Nesta eco, soubemos que os ossos longos eram todos curtos. E por isso escolhemos o nome Boaz, que significa rápido e forte. Além da má-formação, ele poderia ter uma fragilidade nos ossos”, conta Michel. 

Nessa luta para descobrir alternativas para dar qualidade de vida para o Boaz, Michel encontrou o INN. “Fomos recebidos pela Juliana Yamin (presidente do INN) que nos acompanhou em toda a gravidez. Devido ao diagnóstico, o número de exames se intensificou e o contato com o Instituto foi muito importante para nos manter focados. Quando você passa por um diagnóstico difícil, costuma se sentir perdido, não sabe o que fazer e por onde começar. O Instituto nos deu direção e segurança. Deu força nos ajudando a levantar a cabeça. Por isso, quisemos fazer parte do movimento, para que outras pessoas pudessem ter o mesmo apoio”, diz. 

“Ser pai é cuidar, é proteger quando precisa, mas não hesita em incentivar os filhos a voar e seguir em frente”, Michel Capelari. 

E foi nessa jornada da gestação que Michel sentiu mais a sua paternidade aflorar. “Embora já tivéssemos uma filha, saber que nosso filho não estava bem e precisava de cuidados me fazia querer lutar por ele. Porém, a única coisa que eu poderia fazer por ele era amá-lo. E eu o amei como um pai e cuidei dele e de minha esposa como pude”. Boaz faleceu durante o parto, devido a fragilidade dos ossos e da pele. 

“A existência do meu filho foi rápida, como um sopro e sua força esteve no amor. Amei ele a cada dia e fui o pai dele enquanto esteve conosco. Não medi esforços para dar a ele o que era preciso para ele ficar bem. E quando partiu, eu estava lá para o pegar no colo. Depois do parto, pedi à equipe para ficar a sós com ele. Eu o abracei e pedi a Deus para que contasse a ele todas as histórias que eu não poderia contar e brincar com ele todas as brincadeiras que eu não poderia”, revela Michel, que junto da esposa e da filha, recebeu o apoio da família, de um psicólogo, da igreja e também do INN. 

Michel descobriu a força do cuidado. “Sempre incentivo a nossa primeira filha a ser forte, não desistir. Tento dar a ela proteção, mas também confiança para vencer sozinha seus medos e desafios. Eu falava com o Boaz ainda na barriga, cantávamos músicas, orávamos. Mas mesmo distante, o sentimento no meu coração era de amor”. 

Propósito 

O engenheiro Daniel Ishii encontrou na paternidade tripla um propósito de vida. “Eles são meu mundo. São meu tudo”. O filho mais novo, Davi, de 5 anos, tem acondroplasia. “Receber o diagnóstico foi muito difícil no primeiro momento, como se o chão tivesse desaparecido. Nossa principal preocupação sempre foi a saúde dos nossos filhos. Como todos os pais de crianças com doenças raras, passamos por um período de luto que deve ser respeitado, e cada um vive esse luto à sua maneira. O mais angustiante nesse processo foi a falta de informação que tínhamos e a falta de conhecimento por parte dos médicos. Não tínhamos com quem compartilhar o que estávamos passando, pois era uma condição pouco conhecida e o primeiro caso na nossa família”, relembra Daniel. 

Arieli, Daniel, Isabella, Davi e Fernanda (Foto: arquivo pessoal)

Davi enfrentou vários desafios associados ao nanismo, entre eles dores nas pernas e articulações, obstrução das vias respiratórias e otites recorrentes, o que resultou em cirurgias para retirada de adenóide e amígdalas, além da inserção de tubos de ventilação nos ouvidos. Ele é acompanhado por ortopedistas devido ao arqueamento das pernas. “Estamos adiando o máximo possível qualquer outro procedimento cirúrgico para que ele possa compreender melhor o que será feito”, diz Daniel. 

“Ser pai significa amor, senso de realização, transformação e propósito de vida. Não sei o que seria de mim sem a minha família. Ter a oportunidade de criar um filho, contribuir para a formação da sociedade e deixar um legado é um sonho realizado”, Daniel Ishii.

Para o engenheiro, encontrar o INN e o movimento Somos Todos Gigantes foi um divisor de águas e um multiplicador de apoio. “Encontramos acolhimento, informação e troca de experiências. Descobrimos que não estávamos sozinhos. Assim como fomos ajudados pela família de Juliana Yamin, percebemos que também precisávamos ajudar outras famílias e nos disponibilizamos a contribuir com esse movimento”. 

A chegada dos filhos transformou a vida de Daniel. “Eles me fizeram ser uma pessoa melhor, mais resiliente. A forma que eles enxergam o mundo potencializa minha esperança em dias melhores”, finaliza Daniel. 

Kamylla Rodrigues

Kamylla Rodrigues é formada em Jornalismo pela Faculdade Alves Faria (ALFA). Já trabalhou em redações como Diário da Manhã e O Hoje, em assessorias de imprensa, sendo uma delas do governador de Goiás, além de telejornais como Band e Record, onde exerce o cargo de repórter atualmente.
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