Videogame para todos 

ONG cria e adapta controles de videogame para pessoas com deficiência e permite acessibilidade virtual 

O jogo que predomina na casa do Enzo do Reis Rodrigues, de 9 anos, é o Batman. É um jogo de aventura com muitas missões e Enzo tira de letra. Ele precisa apoiar o controle, porque é ali que ele encontra uma dificuldade: o peso do objeto. Mas esse cenário vai mudar. Até o final de agosto, Enzo vai receber um controle adaptado doado por uma ONG que visa tornar a prática de jogar videogame acessível para todos. 

Enzo tem acondroplasia, o tipo mais comum de nanismo e tetraplegia flácida. Ele é o mais novo de três irmãos e começou a jogar videogame por influência da família. “Quem incentivou o Enzo foi meu irmão e meu filho mais velho. Todos jogam lá em casa. Eu também adorava jogar. É um hobby de família”, contou Júlia dos Reis, mãe do Enzo. 

Devido à patologia e à mobilidade reduzida, Enzo usa a boca para segurar o controle e poder jogar. Ele mesmo fez essa adaptação. E os jogos preferidos dele não são infantis. Ele gosta de jogos difíceis e já zerou vários. “Eu adoro jogar Batman. E gostos destes de missões. Tenho duas dificuldades principais: segurar o controle por ser pesado e apertar rápido os botões. Mas eu dou meu jeito e jogo”, afirma Enzo. 

Em novembro do ano passado, Júlia e Enzo participaram da Comic Con Experience (CCXP) na SP Expo, em São Paulo. Durante o evento, eles conheceram a AbleGamers Brasil, primeira afiliada da “The AbleGamers Charity”, uma organização sem fins lucrativos com sede nos Estados Unidos. A ONG cria e adapta controles de videogame para pessoas com deficiência com a intenção de gerar oportunidades que viabilizem a diversão nos jogos para combater o isolamento social e fomentar comunidades inclusivas. Durante a CCXP, Enzo teve a oportunidade de jogar com um controle adaptado e mostrar suas habilidades e suas dificuldades. O resultado acabou em uma entrevista concedida para a revista Veja SP sobre a ação da ONG. 

O coordenador de operações da AbleGamers Brasil, Felipe Negrão, explicou que a ONG percebeu a necessidade da criança e manteve contato com a família de Enzo para definir o melhor produto. “Analisamos que o controle ideal para ele é tão específico e tão difícil de encontrar no mercado tradicional, que tivemos que fazer o pedido direto para a fabricante nos Estados Unidos. É um controle menor e mais leve com um formato para ser confortável nas mãos do Enzo. São botões menores que exigem menos esforço”, explica. 

Segundo Felipe, esse processo de adaptação ou criação de um controle foca no que cada pessoa consegue fazer e não na deficiência. “Dessa forma, a gente garante que o controle vai funcionar de forma confortável e personalizada”. O controle exclusivo de Enzo deve chegar até o final de agosto. 

Para a mãe da criança, o trabalho da ONG mostra um mundo de oportunidades para pessoas com deficiência. “Diariamente, encontro vários obstáculos para oferecer coisas comuns ao meu filho. Nessa caminhada conheci algumas mães que enfrentam o mesmo que eu.  E quando conheci a ONG, fiquei impressionada. São pessoas que pensam no todo. Meu filho vai ganhar um controle feito pra ele. Isso é incrível. Mais do que isso, outras pessoas com deficiência também podem ter essa chance porque tem gente pensando nelas”, complementa Júlia.

Jogos e socialização

De acordo com a ONG, pessoas com deficiência têm 51% mais chances de serem isoladas socialmente do que as demais pessoas. “O videogame é uma ferramenta muito forte de socialização. É um ambiente onde as pessoas podem fazer amizade e até trabalhar, desde que seja acessível. Então a gente trabalha para tornar esse lugar um lugar para todos. Assim, quebramos barreiras e preconceitos”, afirma o presidente da AbleGamers Brasil, Christian Rivolta Bernauer. 

A AbleGamers no Brasil tem 7 anos de atuação e é a primeira ONG no país voltada aos videogames para pessoas com deficiência. “O que a gente quer é que essas crianças, adolescentes e adultos com deficiência consigam jogar com maior conforto e consigam se divertir jogando com amigos e família. O sentido de existência da ONG não é sobre o que a gente faz, mas sim como a gente faz. A gente abre o mundo dos games para que quem antes só podia assistir, agora também pode participar”, finaliza Christian. 

Você pode ser um colaborador da ONG. Acesse: https://beacons.ai/ablegamersbr

E se você quer também um controle adaptado, mande sua história para o e-mail: brazil@ablegamers.org

Kamylla Rodrigues

Kamylla Rodrigues é formada em Jornalismo pela Faculdade Alves Faria (ALFA). Já trabalhou em redações como Diário da Manhã e O Hoje, em assessorias de imprensa, sendo uma delas do governador de Goiás, além de telejornais como Band e Record, onde exerce o cargo de repórter atualmente.
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