Aos 28 anos de idade, Vithória Papel pode ser a única brasileira com nanismo a praticar CrossFit no país. Há três anos ela decidiu conhecer um box e se apaixonou pelo treinamento. Sem nenhuma referência, a Vitthy, como é conhecida, simplesmente decidiu tentar, rompeu as barreiras e foi. A prática virou paixão da mulher de 1,33m que tem acondroplasia e que já havia se arriscado na ballet, jazz, sapateado, musculação e corrida.
Vitthy conta que ama dançar e que também foi para a academia com muito apoio da irmã que é personal. Questionada sobre conhecer alguém com nanismo no CrossFit ela responde: “Nunca vi e não lembro de conhecer ninguém que faz e que tenha nanismo como eu. Fui de supetão mesmo para ver no que ia dar” sorri. A decisão aconteceu depois de enjoar da rotina da academia. O Somos Todos Gigantes buscou informações sobre outras pessoas com nanismo que praticam a modalidade no Brasil e não conseguiu nenhum outro. Envolvidos no CrossFit em todo o país indicaram apenas Vitthória como exemplo.
Natural de São Paulo, mora em Bebedouro e desde o começo é aluna da CrossFit Bebedouro. “O começo foi desafiador. CrossFit é viciante! Mas é algo que me conquistou muito pela superação, limitação, conseguir aprender os movimentos, aumentar as cargas. É algo que me anima em ir todos os dias treinar, para tentar melhorar e superar meus limites. Eu sinto que estou mostrando para o mundo que tamanho não é nada e que ser pequena, dentro da prática tem suas desvantagens, mas ao mesmo tempo tem MUITAS vantagens”, acrescenta.
O bacharel em Educação Física David Scarpim, de 29 anos, é o coach da Vitthy desde o início. Ele trabalha com a modalidade há 6 anos e afirma que quando ela começou, ele sentiu insegurança porque não conhecia nenhuma outra pessoa com nanismo que também praticasse. “Depois foi tudo muito tranquilo, ela foi se adaptando e nós, professores, fomos nos adaptando também às necessidades dela. Lógico que houve compreensão de que alguns movimentos precisam ser adaptados. A gente também teve que pesquisar, ver exercícios diferentes. Ela é uma aluna muito esforçada, dedicada e entende as próprias limitações. Tentamos dar o maior suporte pra Vitthy”, completa.
Competições
Vitthória diz que ainda não sabe fazer todos os movimentos, mas que vai tentar competir assim que for possível. “Quando falam de eu competir para a categoria adaptados, eu até paro para pensar que talvez nem seria preciso porque são questões mínimas, como por exemplo, abaixar a linha do wall ball ou algo do tipo. Ainda não sei fazer todos os movimentos, mas assim que souber, confesso que vou tentar competir em algum campeonato que não seja “adaptado”. Como eu já competi no ano de 2019 no Wod Cup em Ribeirão Preto”, explica.
Inspiração X preconceito
Felizmente, ela conta que recebe muito retorno de pessoas que a veem como inspiração. Não apenas de pessoas com nanismo, mas gente que está acima do peso, magros demais, em depressão. “ Pessoas que se sentem desmotivadas e que a partir dos meus vídeos e treinos, elas estão melhorando a auto estima delas. Isso é uma baita combustível para eu continuar e si
nceramente, não tenho palavras para descrever essa sensação”.
Questionada sobre ser vítima de preconceito, reconhece que ele acontece em todos os lugares, mas pontua você que nem sempre dá importância. “A questão é a importância que você dá e de estar centrado e conectado com você! Eu hoje em dia não me importo e não fico olhando ao meu redor achando que as pessoas estão me julgando ou falando ‘mal’ de mim”, diz. No box, diz que as brincadeiras acontecem porque ela permite e brinca também, mas de um jeito leve. Mas se algum dia eu sinto que a pessoa me desrespeitou, eu com certeza irei falar. Sou muito boazinha e educada, mas não engulo seco e não suporto maldade”, finaliza.