Jornalista brasileira com nanismo vai estagiar na ABC dos EUA

Luiz Phillipe Araújo

Já ouviu falar que os sonhos nos movem, certo? Vivemos cercados de histórias de pessoas que romperam barreiras com essa filosofia. A jornalista Leda Alvim, de 21 anos, é mais um desses exemplos. Nascida em São José dos Campos, interior de São Paulo, hoje a Leda vive em New York, nos Estados Unidos. Formada em solo norte-americano, a brasileira acaba de ser contratada para estagiar na ABC News, que está entre os grupos de comunicação mais famosos do mundo.

Com apenas 16 anos, Leda, que tem acondroplasia, um dos tipos mais comuns de nanismo, já tinha decidido que queria terminar o ensino médio nos Estados Unidos. Junto com os pais, a jovem se mudou para o país com o objetivo de começar uma vida do zero. É claro que o começo não foi fácil. “Aprendi inglês vindo para os EUA. Eu entendia o que as pessoas falavam, mas aprendi mesmo foi aqui”, conta Leda.

O próximo passo da estudante foi ainda mais desafiador: decidiu que seria jornalista. “Tive que me acostumar a competir com os que moravam aqui a vida inteira”, diz sobre o obstáculo da língua tendo de ser aplicada às primeiras redações em formato jornalístico. Uma das estratégias encontradas foi participar de diferentes atividades na faculdade. “Participei de vários clubes, organizações e consegui empregos”, lembra Leda.

Na faculdade, a estudante encontrou e abraçou a experiência que, segundo ela própria, está por trás das atuais conquistas. No “Oracle”, a agência de notícias da faculdade, Leda passou por diferentes cargos. Primeiro social media, depois na administração, até alcançar o posto de editora-chefe. Muito legal, né?

“Chegar lá foi muito gratificante pela minha história, vindo de outro país, de outro idioma, com outra cultura. E ainda me destacar no meio de pessoas que falam a língua há muito tempo”, aponta a agora já formada em jornalismo.

A formatura foi há pouco tempo, no mês passado. Com uma bagagem rica em experiências, a jornalista foi notada pela ABC e começou o novo serviço no dia 10 deste mês. “Estou bem animada, é um sonho que está se tornando realidade. As noites acordadas escrevendo matérias valeram a pena”, brinca Leda.

Superação

Em um site pessoal, a jornalista destaca que o nanismo foi uma das razões que a conectaram ao jornalismo. Ela diz que, quando criança, não entendia os olhares que a identificavam como “diferente” e que faltava representatividade. “O fato de não ter encontrado um lugar onde realmente pertencia me permitiu mergulhar mais fundo no mundo da contação de histórias”, diz Leda.

“Eu nunca vi o nanismo como uma coisa que me inabilitou de conquistar as coisas. Nunca vi como um motivo de me rebaixar, de não acreditar em mim mesma. Acho que o importante foi saber do meu esforço, da minha persistência, do meu trabalho, do que eu acreditava, da minha paixão e ir para frente”, destaca a jornalista sobre a receita dos bons frutos que tem colhido.

Hoje, Leda diz que ser diferente é um dos maiores elogios que alguém pode oferecer para ela. “Para que ser normal ou querer se igualar a outras pessoas? Com suas diferenças você cria sua própria identidade e marca, e isso é o que torna você inesquecível”, considera a jovem.

Acessibilidade na faculdade

Questão importante para muitos que podem se inspirar com a história de Leda são as experiências da jovem com a acessibilidade em outro país. Ela diz que a vida escolar e na faculdade foram tranquilas. “Aqui nos EUA o tópico de acessibilidade é bem discutido e abordado”, diz a jornalista, que lembra de dificuldades pontuais como banheiros com pias altas.

Apesar disso, ela destaca que, mesmo lá, a acessibilidade para pessoas com nanismo ainda precisa avançar. “Na minha faculdade tinha rampa em todos os lugares para quem precisa usar rampas, por exemplo. O nanismo é esquecido na conversa, pelo motivo de não ser muito reconhecido e não ter muita representatividade. As pessoas não pensam muito, elas assumem que as pessoas têm uma altura padrão e que é assim que acontece”, considera.

Para a jornalista, a chave da mudança está justamente na representatividade. “A chance de eu ter visto uma pessoa com nanismo na minha faculdade foi muito pequena. A administração não percebe que isso também é uma causa que precisa ser abordada, reconhecida e que os lugares precisam ser adaptados para servir a essa população”, acrescenta a jovem.

 

Luiz Phillipe Araújo

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