Consulta com a Psicóloga

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Mirella Nery Batista, psicóloga pós-graduada em psicologia jurídica e criminologia, treinada em constelações familiares e organizacionais, Eneagrama e Practitioner em Programação Neurolinguística (PNL), impressiona pelo currículo e, mais ainda, pela sabedoria. Com uma consciência peculiar sobre a posição do ser humano no mundo, considerando estágios intra uterinos para o desenvolvimento humano e a grande influência da família (em suas várias gerações) na construção do ser, ela sublimou suas falas durante o bate-papo do evento Altas Horas. Com um tom suave e seguro, sua fala deu a quem ouvia aquela sensação de reconhecimento que sentimos quando nos confrontamos com uma verdade inquestionável.

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A psicóloga é graduada desde 2005.

Foi imprescindível ecoar sua voz para todos aqueles que precisam ouvir. Graciosamente, Mirella topou continuar a conversa com o Somos Todos Gigantes aqui nas telas do portal. Não deixe de ler esta entrevista exclusiva e intensa que pode mudar a sua vida e de toda a sua família.  

 

STG – Durante o Altos Papos, evento do Somos Todos Gigantes em comemoração ao Dia das Crianças, você disse que, ao se responsabilizar pela saúde mental dos filhos, boa parte dos pais aciona uma certa culpa. Como diferenciar culpa de responsabilidade, nestes casos?

Mirella – A culpa é um sentimento que paralisa, em que a pessoa fica buscando certo ou errado. Quando se intitula errada, entra num movimento em que tende a querer se punir e entra frequentemente na lamentação.

Não há nada mais limitante para a vida do que a culpa. Quando a pessoa entende a sua responsabilidade, quando se responsabiliza, não está em busca de certo ou errado. Ela compreende que tentou seu melhor, mas que ainda assim tem um outro caminho a ser perseguido.

Porque, muitas vezes, nós participamos disso por não ter informações ou ter informações equivocadas. Como, por exemplo, achar que à psicologia a gente recorre quando tem problema.

Essa é uma informação equivocada. Quando a pessoa desiste de ficar procurando por quem está certo ou errado, ela foca mais naquilo que fortalece ou enfraquece e decide mudar de rumo. Então as coisas podem funcionar de uma maneira diferente.

É muito comum que, na culpa, a gente não mude de atitude. A gente paralise. Com a auto expiação, punição, lamentação. A culpa leva para o menos, a auto responsabilidade leva para o mais. A culpa cega. A auto responsabilidade abre um caminho e a pessoa se propõe a olhar para um rumo diferente do que estava olhando. Então tem mais alternativas.

STG – Como pais podem ajudar filhos a sentirem pertencimento em seus grupos sociais?

Mirella – Filhos aprendem sobre pertencimento em sua família de origem. Com pai e mãe. As crianças sentem que pertencem ao sistema familiar e que estão seguras quando todos aqueles que pertencem ao sistema são respeitados e honrados em sua forma de ser.

Mas se existem pessoas excluídas do sistema familiar – e entende-se pessoas que são criticadas, julgadas, esquecidas, condenadas, mal tratadas, isso se entende por exclusão – então a criança se sente insegura e fragilizada como se ela fosse a próxima.

E frequentemente as crianças assumem esse sentimento, das pessoas excluídas. Quando as crianças assumem esse sentimento, elas ficam frágeis. Então quando elas vão para um grupo desconhecido não sabem se colocar e se sentir seguras. Então elas farão de tudo e se submeterão às regras daquele grupo, sem considerar os valores e os princípios da família, porque elas estão fragilizadas. Como a gente ensina as crianças a pertencer? Aprendendo a concordar com as pessoas do jeito que elas são. A ter no nosso coração um lugar para todos que pertencem à nossa família, com respeito. Quando esse lugar é um espaço de exclusão, então as crianças sentem e têm dificuldade com a própria auto estima. A auto estima da criança funciona em ela poder amar todas as pessoas da família da mesma forma, com a mesma importância e vendo a grandeza de cada um em sua força.

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STG – Porque você acha nocivo filhos confundirem pais com amigos?

Mirella – É nocivo porque é fora da realidade. Amigos têm a mesma idade, mesma experiência de vida, e a troca é de igual para igual. Com os pais não funciona assim. Os pais chegaram antes na vida. Têm uma sabedoria maior para nos conduzir e a nossa existência veio deles. Isso é muito maior do que uma amizade. Tanto que pai e mãe só temos um de cada. Amigos temos vários. A troca com os amigos é superficial. Os pais não. Eles comprometem a existência deles. A mãe, quando topa trazer um filho para a vida, ela topa morrer por ele. Então essa é uma força de vínculo muito intensa. E nessa preparação para isso, e com todos os temores que a gestação traz, essa mãe e este pai desenvolvem todos os recursos para conduzir a criança na vida. Amigo não tem disso. Amigo tem os interesses e as regras de pertencimento da família dele de origem. Precisamos entender isso muito claro.

A tarefa de pai e mãe é uma responsabilidade infinitamente maior. E o que está acontecendo hoje, que é muito sério, é que as pessoas não estão conseguindo viver os papéis naquilo que o papel se cumpre. Filho é filho. Pai é pai. Mãe é mãe. Pai e mãe também são diferentes. A criança precisa dos dois. Ninguém pode ficar de fora. Amigo, nós podemos ter vários. Eles vêm e vão ao longo da vida. O vínculo, a intensidade, a troca é diferente. Então as crianças precisam entender que os que vieram antes estão há mais tempo aqui e, portanto, têm mais capacidade e sabedoria de vida. E eles precisam aprender com os que chegaram antes. Hierarquia é isto. Os pais conduzirem os filhos com esta diferença. Esta é a tarefa dos pais. A tarefa dos filhos é seguir esta condução e no tempo adequados escolherem o próprio caminho com aquilo que já receberam.

Amigos não. Amigos a tarefa é diferente. Uma responsabilidade menor. Por isso, é uma relação mais leve e mais livre, mas também com menos troca e menos responsabilidade.

STG – Quando adolescente ou adulto, como lidar com situações reais de preconceito?

Mirella – Eu acho que um adolescente precisa centrar muito nos valores da família de origem e, diante de qualquer situação, cumprir com os valores. Se a situação é desagradável, desconfortável para ele, precisa se posicionar de forma que isso não se torne uma violência porque, dependendo da maneira como ele faz, pode se tornar uma agressão, física, psíquica, e isso é desnecessário.

Quando a pessoa está bem, não é difícil para ela se retirar. Isso não vai diminuir o valor que ela tem. Porque, em alguns casos, a única solução é a retirada, já que o enfrentamento é confusão.

Por isso que eu volto na orientação inicial. Nós nos fortalecemos na nossa família e o adolescente precisa disso. Dessa clareza. Porque, muitas vezes, na compreensão do adolescente, o fortalecimento acontece quando ele critica e se distancia da família e se une aos amigos. Por isso que a base educacional tem que ter sido muito forte. Porque mesmo que ele faça este movimento, lá no fundo, ele vai estar sempre lembrando dos princípios, da força e o que é válido para sua família de origem. Então não vai se desviar.

STG – Você tem dicas de livros, exercícios ou qualquer prática que estimule o encontro com a autoestima?

Mirella – O desenvolvimento da auto estima nada mais é do que a conexão com os nossos pais. Quando conseguimos nos alegrar com nossos pais exatamente do jeito que eles são, ficamos seguros e confiantes daquilo que nós somos. Quem se alegra com os pais, alegra-se consigo mesmo. A melhor dica de auto estima é que a gente aprenda a superar as queixas que nós temos em relação aos nossos pais porque isso define todo os resultados futuros na vida.

Nós aprendemos a nos relacionar com as pessoas da forma como aprendemos a nos relacionar com os nossos pais. Se eu estou bem com meus pais e alguém diz para mim que eu sou feia, a força que vem deles não me permite sofrer com isso. Mas se eu critico a minha mãe, meu pai, quando a pessoa diz que eu sou feia, isso tem ressonância em mim. E a tendência é me distanciar e me fechar e remoer isso.

A auto estima é a concordância com a nossa família do jeito que eles são. E também é importante a gente sentir no nosso corpo a presença dos nossos avós, bisavós, tataravós porque nós somos a soma de todos eles. Quando eu entendo isso e sinto isso no meu corpo, então eu sinto meu pertencimento e em qualquer situação eu não mais me sinto frágil.

Essa é a principal dica: qualquer livro, profissional de saúde, filme, religião, tudo o que houver que ensine este caminho é indicado. Tem um livro que fala sobre hierarquia que chama Tapa na Bunda, eu acho que ajuda a gente a entender a importância dos limites. Eu gosto mais de ajudar as pessoas a sentir do que a entender por isso, evito a recomendação de muitos livros. O mais importante é a gente aprender a desenvolver os sentimentos, não os pensamentos. São os sentimentos que movem a vida. A gente recebe do universo aquilo que a gente sente e não aquilo que a gente pensa. Então se você muda o sentimento, muda tudo!

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Capa do Livro indicado pela especialista.

STG – Como pais de quem tem nanismo podem lidar com aquele momento que todos temem, quando as crianças começam a perceber mais atentamente sua diferença de estatura?

Mirella – Em todos os casos, é muito difícil ajudar as crianças sem ajudar os pais. Então as primeiras pessoas que precisam ser ajudadas são os pais. Os primeiros a serem tratados com este tema são os pais. Porque quando os pais aprendem a concordar com seu destino e com o destino das crianças do jeito que elas são, eles ganham uma força especial para apoiar as crianças. É disso que se trata. De quê essas crianças vão precisar? Da verdade.

Os pais não podem desconfirmar a diferença que existe. Eles precisam mostrar que a diferença existe, mas que não é só aquela diferença. Que há muito mais nela e este muito mais também é importante. Os pais não podem focar no problema. Têm que focar naquilo que é a solução e mostrar os outros recursos, as outras habilidades que esta criança traz e que ainda pode desenvolver muito mais, mas para isso pais precisam estar fortalecidos emocionalmente. Esse fortalecimento só vem com a concordância com aquele destino, do jeito que ele é. Porque quando os pais discordam ou questionam ou querem entender, é muito frequente dois sentimentos: a raiva e a pena. E esses dois sentimentos subtraem dos pais a percepção adequada do que fazer em cada momento.

A criança não reage à ação externa, mas ao sentimento. Quando os pais estão com o sentimento em ordem, então isso não é uma dúvida. Fica muito claro o que deve ser feito a cada momento. Então o primeiro cuidado é com os pais. Os pais precisam aprender a concordar com os destino das crianças e deles da maneira que é. Não no pensamento. Porque no pensamento, já concordam. Mas no sentimento. Só transformando os sentimentos os pais vão entender qual a fala e qual posicionamento seu filho precisa a cada passo.

STG – Ao ingressar na vida adulta, como impor sua maturidade para família e amigos superprotetores?

Mirella – Eu não sei se a palavra seria impor. Eu entendo que, quando a gente precisa impor algo, isso significa que faltou habilidade para que aquilo acontecesse de forma natural. Quando se tem maturidade, geralmente não tem necessidade de imposição. Quando você atinge a maturidade, se a pessoa é superprotetora ou não, isso já não te incomoda. Isso já não te aflige. Já não é um problema. E se está difícil ficar na casa dos pais assim, então se desenvolva, conquiste sua própria casa e as regras vão funcionar da sua maneira. Essa ideia de impor é justamente o a gente tenta e que subtrai. Cada um tem sua maneira de ser e a pessoa que é superprotetora vai continuar sendo. E se você está bem, se amadureceu, isso não pode ser para você um desconforto, um problema. Agora, se você está atraindo companheiros que têm essa tendência frequentemente, ou amigos assim, é porque inconscientemente há algo que você precisa desenvolver, porque a gente atrai pessoas no mesmo nível de maturidade em que a gente está. Quando a gente realmente atinge a maturidade, então a imposição se torna desnecessária.

Rafaela Toledo

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